Sobre o uso e abuso de estrangeirismos
Vivemos na era da imagem. A corridinha matinal, os sumos e batidos detox, os cremes com retinol e vitamina C espelham uma verdadeira obsessão pela eterna juventude.
E a língua não escapou a esta vaidade excessiva. Também ela usa cada vez mais maquilhagem e mais adornos, e como se o produto nacional não fosse de boa qualidade, procuramos embelezá-la com adereços vindos de fora. Falamos de estrangeirismos.
No meio empresarial (ou corporate!), qualquer projeto começa com um briefing dado pelo cliente,que define a deadline e aprova ou não o budget. Depois, entre reuniões em open space convivem os follow ups, os mindset, os overview e tantos, tantos outros…
No universo da moda, os manequins não se podem esquecer dos seus books e composites sempre que vão a um casting. E o look convém ser bastante clean, por isso, não devem exagerar na make-up!
Na praia, os surfistas procuram ondas para exibirem os seus drops e os seus snaps. E se o mar estiver flat ou houver muito crowd, o melhor é fazer um jogging matinal ou então ficar deitadinho na toalha a apanhar banhos de sol.
E por falar em sol, não adianta tapá-lo com a peneira. Os estrangeirismos estão por todo lado, qual praga veio para nos azucrinar. Decididamente, entraram sem pedir licença. Mas eles não vivem apenas em “condomínios fechados”. Eles coabitam cada vez mais em lugares comuns: no shopping, a fast food; nas lojas, as jeans e as t-shirts, no cabeleireiro, o brushing; na rua, o carjacking; na escola, o bullying…
E desengane-se quem pensa que os usamos apenas por necessidade linguística. A verdade é que os usamos, quase sempre, por moda, vaidade ou estatuto social. Diga lá se há ou não um certo glamour (desculpe, deveria ter dito encanto!) em dizer spa em vez de termas, resort em vez de estância, barbecue em vez de churrasco?
Encanto para uns, tormento para outros. Um autêntico tormento para quem vê no estrangeirismo uma ameaça ao seu património linguístico e cultural.
Há muitos estrangeirismos cujo uso, a meu ver, seria escusado na nossa comunicação diária. Por isso, sempre que houver um termo em português que designe uma determinada realidade, evite o termo estrangeiro: se existe em português a palavra “folheto”, não precisa de usar flyer. Será desnecessário usar budget, porque pode utilizar “orçamento”. Ou opinião (feedback), prazo (deadline) e tantos, tantos outros…
Será esta uma batalha perdida?