Estou inspirada com os vídeos de pessoas a cantar nas varandas (em Itália). Os espaços ao ar livre tornaram-se essenciais para as pessoas respirarem ar fresco e sentir o sol nos seus rostos. Futuramente acredito que todos se lembrarão deste vírus ao comprarem um apartamento ou casa, pois o espaço ao ar livre será um requisito.
Atualmente, tecnologias como FaceTime, Zoom ou Skype tornaram-se uma das bases de interação que muito tem auxiliado os profissionais a continuar a trabalhar.
Será que isto, futuramente, se irá traduzir em menos reuniões presenciais com clientes? Talvez sim. Alguns dos nossos clientes vivem a duas/três horas dos nossos ateliers e esta nova dinâmica de trabalho provou não comprometer o acompanhamento de projeto ou eventuais discussões sobre o mesmo. Acima de tudo, trata-se de tempo. Menos tempo desperdiçado em viagens, mais tempo dedicado a trabalho. E tempo é ouro numa realidade que vive para ontem. No entanto, é importante percebermos que, futuramente, não devemos abdicar a 100% desta cortesia de estarmos com os clientes. Trabalho é importante, mas cultivarmos relações pessoais também é!
Muitos dos colegas, com quem tenho conversado, tentam manter o trabalho da melhor maneira possível, mesmo com as visitas às obras anuladas e adiadas. No que toca à necessidade de termos amostras físicas, o que tem acontecido é que os fornecedores têm garantido que sejam recebidas por correio, o que permite a possibilidade de não pararmos.
Na verdade, esta quarentena tem sido uma oportunidade de dedicarmos mais tempo aos projetos, de questionarmos e melhorarmos pormenores. Para muitos colegas vejo, também, que tem sido uma oportunidade de repensarem futuras estratégias de negócios ou até mesmo de atualizarem plataformas digitais. As redes sociais revelam-se uma ótima ferramenta de promoção e divulgação de trabalho, pois, de uma forma geral, as pessoas passam mais tempo ao telemóvel.
Embora não sendo uma forma de trabalhar normal, na nossa área, os gabinetes têm-se mostrado ágeis e dinâmicos no que diz respeito a dar resposta a esta pandemia.
Agora, em que é que esta pandemia poderá traduzir-se no futuro?
No meu ponto de vista, após este isolamento, as pessoas, mais do que nunca, quando voltarem a comprar um imóvel, irão ter em mente uma série de elementos que até então não pensavam; provavelmente ponderarão em adquirir uma casa ao invés de um apartamento. Será pertinente agora poder usufruir-se de um pequeno terraço ou pátio, onde possam tomar um pequeno almoço ao ar livre e conceder algum espaço para os miúdos brincarem.
Questiono, também, se será o início da despedida de algumas realidades que vivemos, como as cozinhas e salas serem num único espaço sem divisão, os halls obedecerem a dimensões reduzidas e os quartos continuarem separados das casas de banho.
Será que, pós pandemia, devemos olhar para o hall de entrada de uma forma autónoma e maior, com um programa adequado a deixarmos sapatos e roupas? Os quartos devem todos ser suítes de forma a podermos estar isolados, caso seja necessário? As garagens devem contemplar zona de duche, como ainda há uns dias um enfermeiro reportou a sua experiência na televisão? As dúvidas são inúmeras, mas seguramente a nossa forma de estar e viver irá mudar.
Podemos vir também a assistir a uma maior atenção quanto aos locais de trabalho dentro de uma casa, pois nesta pandemia muitos passaram grande parte do seu tempo nos mais variados sítios do seu lar. Com isto será urgente repensarmos na organização espacial do mesmo. Acredito que futuramente estes espaços poderão vir a ser pensados como divisões, se possível, completamente independentes da casa, com dimensões de janelas bastante ambiciosas e com a preocupação do mobiliário deixar de ser uma cadeira e mesa bonitas e passar a uma imagem mais confortável e adequada a um local de trabalho.
Acredito também que cada vez nos iremos debruçar mais sobre cada edifício ser autónomo e independente, por isso as energias alternativas irão introduzir mais e novos elementos na arquitetura dos futuros edifícios. O mesmo acontecerá com a internet que desenvolverá serviços para uso civis muito mais rápidos e seguros.
Os sistemas de filtragem de água e ar, que, até agora, tendem a ser vistos como uma adição desnecessária passarão, após a pandemia, a ser uma preocupação tendo em conta que um vírus pode entrar no suprimento da água. Para garantirmos e nos defendermos disto teremos que garantir sistemas de filtragens entre outras coisas que sinceramente até desconheço.
Os fabricantes de sistemas domésticos inteligentes darão um passo e os seus programas poderão não só controlar a temperatura do ar na casa, como a sua qualidade e, se necessário, poderão fazer a sua auto-limpeza.
Será que a jardinagem vai novamente reconquistar as novas gerações?
Já os nossos avós diziam que a jardinagem lava a alma e é uma ótima terapia, aliás está inclusivamente provado que a interação física com as plantas é boa para a nossa saúde mental. Talvez a quarentena tenha sido uma forma de fomentarmos o desejo de produzirmos e plantarmos os nossos próprios alimentos.
Finalizo com a esperança e a fé que o pior já tenha passado e curiosa sobre as mudanças que, inevitavelmente, farão parte do nosso dia-a-dia. Teremos mais responsabilidade sobre o que agora vamos comer? Sobre como nos vamos organizar espacialmente? Como nos iremos comportar?
Lave as mãos e, enquanto for pedido, tente sempre ficar por casa.