A sexualidade de cada um tem infinitas possibilidades e complexidades também. Existe num substrato biológico e é tecida de emoções, crenças, pensamentos e sensações físicas, numa trama de condicionamentos sociais e culturais. Pode ser tão rica e deslumbrante, mas também pode trazer inibições, medos, dores e desajustamentos no encontro com o outro. É fácil surgirem dificuldades na vivência sexual com outra pessoa, pela diferença nas suas histórias, vivências e expectativas. O que surpreende verdadeiramente é juntarem-se duas pessoas, obviamente sempre com backgrounds diferentes, sem existirem dificuldades e desafios. Não existe essa coisa do match perfeito.
No início, a relação sexual está muito protegida por essa entidade maravilhosa que esconde imperfeições e ameniza diferenças. Falamos da paixão, que às vezes até cega, embriaga e entontece. De tal forma que pequenas e grandes coisas a que achamos tanta graça no nosso companheiro no início se tornam insuportáveis e detestáveis passado algum tempo. Aquelas coisas nos primeiros tempos vistas como “Vive na lua, sempre distraído e sonhador…é adorável!”, transformam-se passado algum tempo em “É um irresponsável, não toma conta de nada e eu é que tenho que fazer tudo”. “É tão meigo… chama-me amorzinho e manda 20 mensagens por dia”, mais tarde transmuta para “Que melga, não aguento mais tanta lamechice superficial”. A paixão é um combustível fortíssimo do desejo pelo outro e um atenuador de diferenças. Tudo é belo e admirável no outro. Mas a paixão tem um tempo de vida – uns dois anos, segundo a ciência – e depois transforma-se noutras coisas menos intensas mas mais consistentes. As diferenças entre os dois tornam-se mais visíveis, o conhecimento do outro é agora pleno e real. Começamos a desgostar de alguns aspetos e parece que os pontos de encaixe desaparecem.
Também os problemas sexuais podem surgir ao longo de uma relação, prenhe de acontecimentos de vida, desde o nascimento de filhos às atribulações da carreira profissional, entre tantos outros eventos da vida. A própria duração da relação pode trazer dificuldades sexuais, pela erosão e perda do erotismo, a rotina, a familiaridade e o aborrecimento sexual.
Todos temos dificuldades sexuais em determinados momentos mas nem todos os problemas são disfunções com indicação para terapia sexual. Para diagnosticar uma disfunção sexual é necessário fazer uma avaliação clínica para ver se estão presentes um conjunto de critérios de diagnóstico. As disfunções sexuais podem ser várias. Na mulher falamos da Disfunção do Interesse/Excitação sexual, Disfunção do Orgasmo e Disfunção da Dor Génito-pélvica/penetração. Por exemplo, o facto de haver perda ou diminuição do desejo sexual (que acontece tantas vezes e por variadíssimas razões) não significa que exista uma situação de disfunção e necessidade de terapia sexual. No entanto, falar com um terapeuta pode ajudar a ultrapassar o problema, antes que ele se transforme numa disfunção. No homem, temos a Disfunção Erétil (a mais falada), Ejaculação Precoce (a mais frequente), Desejo Sexual Hipoactivo e Ejaculação Retardada.
A Terapia Sexual é uma intervenção terapêutica desenhada para tratar as disfunções sexuais. O objectivo da Terapia Sexual é restabelecer a saúde e o bem-estar sexual. A terapia sexual é feita com o casal – quando há casal – ou pode ser individual. As sessões têm a duração de uma hora e começa-se com uma avaliação clínica. A avaliação é fundamental para compreender a pessoa e o problema que traz. Depois da avaliação são estabelecidos objectivos terapêuticos, em conjunto, e o terapeuta desenha um plano de intervenção. As sessões consistem numa conversa. Para os que têm dúvidas, importa esclarecer que nunca há qualquer contacto físico entre o terapeuta e o cliente.
Os terapeutas sexuais podem ser psicólogos ou médicos de diferentes especialidades, que tenham recebido formação teórica e clínica pela entidade científica responsável – em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Podemos encontrar uma lista das consultas públicas de sexologia clínica e também dos terapeutas sexuais que fazem consulta privada, no site dessa sociedade científica (www.spsc.pt).