O glúten é uma proteína existente nalguns cereais, nomeadamente o trigo, centeio e cevada. A aveia é muitas vezes descrita também como contendo glúten, mas na verdade ela não possui essa proteína. No entanto, é muito frequente sofrer “contaminação” por outros cereais nas linhas de produção, pelo que a maior parte das vezes acaba por ser considerada um alimento que possui glúten.
Desde que foi identificada a doença celíaca (intolerância ao glúten), tem havido muita discussão e alguma controvérsia relativamente à idade ideal para introduzir estes cereais na alimentação das crianças. O propósito foi sempre tentar perceber a partir de que idade é seguro fazer essa introdução e até que idade se pode fazê-lo sem aumentar o risco de doença celíaca.
As recomendações têm variado um pouco nos últimos anos, mas em dezembro de 2016 foi publicado pela Sociedade Europeia de Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) um documento que tenta esclarecer a situação. Assim, com base nos estudos mais recentes, conclui-se que o glúten não deve nunca ser introduzido antes dos 4 meses de idade, mas que a partir daí é aceitável que isso aconteça. Até há pouco tempo acreditava-se que essa introdução deveria ser feita até aos 7 meses, mas estas últimas recomendações vêm esclarecer que afinal pode ser feita até aos 12 meses de idade da criança. A partir dessa idade parece que o risco de doença celíaca aumenta, embora sejam necessários mais estudos para perceber de forma concreta se é possível alongar mais este período de introdução ou não. No entanto, em crianças de risco, a introdução precoce do glúten foi associada a manifestações mais precoces de doença celíaca, embora não aumente o seu risco absoluto.
Para além da idade, também a forma como se introduz parece ser importante, pois o ideal é que nas primeiras vezes a criança contacte com pouca quantidade de glúten e que depois se vá aumentando progressivamente. Isto significa que o glúten deve ser introduzido de forma gradual, pois como é uma proteína “estranha”, deve-se deixar o organismo contactar inicialmente com pequenas quantidades, para se ir habituando aos poucos.
Relativamente ao tipo de glúten a introduzir, não parecem haver diferenças significativas, pelo que actualmente se considera que estas recomendações são válidas para todos os tipos.
Por fim, uma palavra para o aleitamento materno, que é também discutido nesse documento. Até há pouco tempo acreditava-se que o aleitamento materno ajudava a prevenir a doença celíaca, pelo que se recomendava que o glúten fosse introduzido, idealmente, enquanto a criança ainda se encontrava a ser amamentada. No entanto, os estudos citados pela ESPGHAN não comprovaram esse efeito protector, pois parece não existir. No entanto, como é lógico (e isso é bem estabelecido nas recomendações), o aleitamento materno deve sempre ser fomentado por todos os seus outros benefícios, pelo que deve ser sempre aconselhado a todas as crianças.
Em jeito de conclusão, pode-se afirmar então que o glúten deve ser introduzido na alimentação das crianças ente os 4 e os 12 meses de idade. Este parece ser o período ideal, uma vez que se essa introdução for realizada antes ou depois desse intervalo o risco de desenvolver uma intolerância ao glúten (doença celíaca) torna-se maior, particularmente em crianças de risco (filhos de pais com doença celíaca, por exemplo).