É talvez o menos simpático dos voos que se pode fazer entre Lisboa e Las Vegas. United 65 para Newark seguido de outro para Las Vegas, e é quase criminoso não ter tempo sequer para um saltinho a Manhattan. Quatro horas de escala e burocracia, até temos que tirar as malas e voltar a fazer todo o processo para as pôr no outro avião num aeroporto sem gracinha nenhuma. Com equipamento profissional de televisão é pior ainda, mais papelada. E Nova Iorque ali ao lado. Ainda não chegámos, falta pouco mais de hora e meia e já fizemos 4500 quilómetros, já agora estamos a 11585 metros da superfície do Atlântico.
Lugar 22D coxia, prefiro janela mas, de facto, deste lado sempre há um bocadinho mais de liberdade de movimentos.
Estou a escrever no Google Docs offline e a ouvir ópera no Spotify offline. O teclado SwiftKey do meu iPad vai adivinhando metade das palavras antes de eu as escrever por completo. Acabei de ver uma mini série sobre os julgamentos de Tóquio no fim da segunda guerra mundial, offline com o Netflix. Antes disso vi finalmente o filme Snowden de Oliver Stone no sistema de entretenimento do avião, vale a pena reflectir sobre as consequências disto tudo.
Boa parte dos passageiros está a trabalhar no seus computadores, a maioria vê filmes. Escolha não falta. Por 16 dólares posso ter acesso à Internet. Neste voo vou poupar o dinheiro e aproveitar para estar um bocadinho offline, se se considerar que isto é estar offline, tendo em conta que tudo o que estou a fazer quando não estou a olhar para os outros depende da Internet. Navegar cá em cima pode ser muito útil quando precisamos mesmo mas pode também ser muito frustrante, a velocidade é por regra fraquinha. Mesmo sem pagar posso ter acesso a toda a informação que a app da companhia aérea vai buscar à Net, posso até marcar daqui um Uber para me apanhar no aeroporto e levar ao hotel.
Vamos a caminho da CES, de longe a maior feira de electrónica de consumo do mundo. Não há nada nesta área que não esteja de alguma forma representado. Desde a mais pequenina das invenções a tentar ganhar um lugar ao sol numa das plataformas de crowdfunding, até aos mais avançados protótipos de carros autónomos, passando por coisas simples como televisões e frigoríficos. É o melhor evento do mundo para ver para onde vamos, mas é de tal forma gigantesco que já sei que vamos sair com a sensação de que precisávamos de muito mais tempo e que com certeza houve muito que nos passou ao lado. Vamos ter que ver e ler o que os outros jornalistas fizerem também.
É esmagador e demasiado rápido, como os tempos que vivemos. Mas confesso que é muito divertido.