Para a maior parte das pessoas, o verão continua a ser a altura do ano em que a agenda profissional fica mais liberta e em que o impulso de viajar se intensifica — seja dentro de fronteiras ou no estrangeiro. Como tal, há que tirar partido das oportunidades e desafios fotográficos que este contexto apresenta, considerado aspetos que se tornam relevantes sempre que abandonamos a nossa área de residência e partimos rumo à (re)descoberta de outras paragens.
Neste sentido, eis um conjunto sugestões fotográficas que, dependendo do seu destino, poderão ser úteis para trazer consigo imagens dignas das suas melhores recordações e experiências de vida.
![Mongolia_JoelSantos_04.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/9332769Mongolia_JoelSantos_04.jpg)
Legenda: Seja qual for o canto do mundo para onde vai viajar, existem formas de maximizar a sua experiência pessoal, de melhorar a relação com as pessoas com se cruza e, claro, conseguir fotografias que mereçam um lugar especial na sua memória. | Ashol Pan, Caçadora com Águia, Cadeia Montanhosa Altai, Oeste da Mongólia. © Joel Santos – www.joelsantos.net
Joel Santos
1. Pesquise
Graças aos inúmeros sites e aplicações móveis dedicados à fotografia e a viagens, nunca foi tão fácil pesquisar sobre um local, permitindo antever e selecionar as oportunidades fotográficas que mais nos interessam. Contudo, precisamente por essa informação ser livre e do domínio público, corre-se o risco de chegar ao lugar e acabar por fazer exatamente a composição que centenas ou milhares de pessoas já fizeram. Assim, mais do que pesquisar para alimentar uma repetição, esta deve ser usada para
perceber o que ainda não foi feito e conferir aquele toque de originalidade que tornará as suas fotografias especiais. Adicionalmente, como a luz é o principal ingrediente de uma fotografia, tente perceber qual a orientação da luz solar nas horas em que pretende visitar uma dada localização, pois, com frequência, chegará à conclusão que o motivo que tenciona fotografar ficará melhor iluminado num horário diferente do que tinha inicialmente pensado.
![20160312_07604_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933277120160312_07604_ONLINE.jpg)
Legenda: A Bet Giorgis, uma igreja monolítica em Lalibela, Etiópia, é dos locais mais fotografados do complexo de igrejas que faz parte Património da UNESCO. Uma pesquisa sobre o local revelou quais os enquadramentos mais frequentes e, com base nessa informação, procurou-se uma abordagem diferente, enquadrando a igreja e o sacerdote usando a pequena entrada que dá acesso ao local, a qual exibia uma forma de “lâmpada” que encaixava os restantes elementos na perfeição. | Lalibela, Etiípia. © Joel Santos – www.joelsantos.net
2. Aprofunde
Viajar pode e deve ser muito mais do que “picar o ponto”. Importa esperar, sentir e perceber os ritmos da natureza, das cidades, das pessoas. Fotograficamente, terá muito a ganhar em visitar menos locais, logo despendendo mais tempo em cada um destes, pois essa dedicação permitir-lhe-á perceber que existem várias camadas para explorar, ou seja, existem oportunidades que só se apresentam com a devida persistência e conhecimento previamente adquirido do “terreno”. Se tiver em consideração um local onde tenha vivido vários anos, porventura chegará à conclusão que não visitou todos os locais, não conheceu todas as pessoas, não perscrutou todos os recantos. Logo, o mesmo será verdade para um sítio onde ficará apenas alguns dias. É um facto que há muito mundo por explorar, mas as localizações e as pessoas especiais merecem uma continuada (re)descoberta.
![20160315_09465_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933277320160315_09465_ONLINE.jpg)
Legenda: Uma parte considerável das tribos existentes no planeta começam a ser alvo de um fluxo turístico excessivo, sendo difícil registar momentos verdadeiramente autênticos, especialmente quando as incursões são feitas com rapidez e sem qualquer oportunidade de estabelecer relações com os locais. Esta fotografia nasceu apenas porque se permaneceu dois dias com esta família da tribo Mursi, comendo e dormindo na sua aldeia, culminando com um nascer do sol onde foi possível registar um momento singular da sua vida quotidiana, exemplo da sua vivência ligada à pastorícia. | Vale do Omo, Etiópia. © Joel Santos – www.joelsantos.net
3. Seja autêntico e respeitador
Quando visitamos outras gentes e locais é essencial ter presente a forma como gostaríamos de ser tratados caso os papéis estivessem invertidos. Por essa razão, ser autêntico e respeitador é o caminho mais nobre e rápido para criar laços genuínos com todos aqueles com quem nos cruzamos, algo que irá transparecer nas fotografias. Sempre que possível, use a fotografia como uma linguagem universal para se relacionar, isto em vez de fotografar sem mostrar as imagens conseguidas. Alternativamente, consoante a situação, guarde a câmara, sorria, converse e, porque não, brinque, tal como faria com alguém que preza dentro da sua esfera de conhecidos e amigos, ficando a fotografia para mais tarde, quando esta já não for interpretada como uma intromissão ou invasão da privacidade. Quando tal acontecer, experimente deixar de lado a teleobjetiva e prefira as distâncias focais intermédias (24mm a 70mm, por exemplo), aproximando-se e integrando-se nas experiências. Por vezes, do outro lado da câmara, está um amigo para a vida, uma oportunidade de crescimento interior preciosa e que transcende a fotografia realizada.
![Mongolia_JoelSantos_11.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/9332775Mongolia_JoelSantos_11.jpg)
Legenda: O pai, Agalai, e a filha, Ashol Pan, são ambos caçadores com águia, uma tradição ancestral dos nómadas cazaques. Muito antes desta fotografia ser realizada, houve uma grande interação com a toda a sua família, desde beber um chá até à ajuda com o gado, sem a presença de qualquer câmara fotográfica. Só mais tarde foram acompanhados até ao topo de uma das montanhas locais, sendo fotografados de muito perto, enquanto as suas águias perscrutavam a paisagem à procura de uma presa. | Cadeia Montanhosa Altai, Oeste da Mongólia. © Joel Santos – www.joelsantos.net
Joel Santos
4. Conheça o equipamento
Uma fotografia nasce muito antes de o momento de a fazer surgir. Aliás, raramente existe “sorte” em fotografia; existe, isso sim, uma preparação que, quando a oportunidade se apresenta, nos permite agir oportunamente, conseguindo registar um momento raro. Deste modo, procure conhecer a sua câmara tal como conhece o interior do seu carro, tomando consciência de como pode operar modificações rápidas nas suas definições quase sem pensar nelas — alterar o modo de exposição, mudar os pontos de focagem e modificar a sensibilidade ISO são apenas alguns exemplos, entre outras configurações tão ou mais relevantes do que estas. Note que a espontaneidade de um retrato pode esfumar-se caso chegue à conclusão que precisa de repetir a fotografia por ter definido uma compensação de exposição inadequada — existem circunstâncias verdadeiramente irrepetíveis, mesmo que esteja perante as mesmas situações repetidamente.
![20160317_13797_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933277720160317_13797_ONLINE.jpg)
Legenda: Os momentos raros são, por definição, muito fugazes e irrepetíveis – uma expressão, um olhar ou até mesmo o fumo que emana de uma fogueira não se apresenta duas vezes da mesma forma. Assim, conhecer o equipamento é vital, permitindo ajustar as definições da câmara rapidamente ou, por vezes, antes de o momento-chave ocorrer. | Vale do Omo, Etiópia. © Joel Santos – www.joelsantos.net
5. Escolha o equipamento com sensatez
O investimento feito em material fotográfico leva-nos, naturalmente, a sentir que devemos transportar tudo connosco — afinal de contas, se houve a necessidade de comprar uma dada objetiva, é porque consideramos que, mais cedo ou mais tarde, esta será útil. Todavia, o excesso de opções traduz-se frequentemente em excesso de peso às costas, de inércia perante os momentos decisivos e de falta de discrição quando esta é precisa. Como tal, pondere o equipamento a transportar em função das características do destino, decidindo se é crucial andar leve (vai subir uma montanha ou fotografar na praia mais próxima?), se é importante ser discreto (vai fazer fotografia de rua ou de vida selvagem?), se é indispensável estar preparado para os rigores da meteorologia (vai visitar um país tropical ou um deserto?), entre outros aspetos dignos de consideração.
![20151119_00754_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933277920151119_00754_ONLINE.jpg)
Legenda: O equipamento não faz o fotógrafo – uma verdade universalmente aceite –, mas é um facto que ajuda ter a ferramenta certa no momento certo. Neste caso, foi essencial usar uma objetiva definida a 400mm (ou seja, um zoom extremamente elevado), para registar o momento em que um Oryx marchava em frente a uma duna do deserto do Namib. A mesma objetiva, por muito útil que fosse, seria impraticável de transportar numa expedição a uma montanha, dado o seu peso e volume.| Sossusvlei, Namíbia. © Joel Santos – www.joelsantos.net
6. Use roupa apropriada
Durante uma viagem, o cariz prático da roupa a usar deve, em caso de dúvidas, sobrepor-se ao gosto pessoal. Os costumes e cultura dos sítios visitados devem ser respeitados, sendo que a nossa aparência exterior tem um impacto considerável na forma como somos aceites localmente, especialmente quando se tem uma câmara na mão e se procura fotografar a vida quotidiana das pessoas. Já quando se embarca numa aventura num destino rico em vida selvagem, é preciso considerar as adversidades muito particulares dessa localização, quer seja ao nível meteorológico, quer seja no que diz respeito à presença/ausência de mosquitos portadores de maleitas, como a malária ou o dengue. De um ponto de vista da técnica fotográfica, poderá valer a pena vestir-se totalmente de negro para, ao refletir pouca luz, poder passar à frente da câmara durante as longas exposições noturnas, designadamente para pintar com luz os cenários onde se encontra. Contrariamente, caso goste de se incluir nas suas próprias composições, porque não apostar em roupas com cores quentes (as primeiras que o nosso cérebro percebe, como acontece com o vermelho) ou que simplesmente sejam complementares com as do local onde se encontra (maximizando, assim, o contraste criado entre as diferentes matizes).
![20130125_00018_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933278120130125_00018_ONLINE.jpg)
Legenda: O conforto depende grandemente da roupa usada, seja no topo de uma montanha ou perto de uma praia, um aspeto indispensável para que as condicionantes climatéricas não limitem a capacidade de continuar a fotografar. E, já agora, porque não pensar também no cromatismo dessa mesma roupa em função do local visitado, para que nos possamos integrar em algumas das fotografias, adicionando um elemento humano contrastante que confira escala, perspetiva e um ponto focal à imagem. | Mount Fitz Roy, Patagónia, Argentina. © Joel Santos – www.joelsantos.net
7. Encontre quem lidera a opinião
Nem sempre é fácil estabelecer uma relação de confiança imediata com quem pretendemos fotografar, sobretudo em comunidades mais pequenas e isoladas. Neste contexto, antes de começar a fotografar, poderá ser proveitoso identificar a pessoa que goza de um maior respeito local, tipicamente devido à sua posição na hierarquia da família ou da sociedade em que está integrada. A partir desse contacto e explicando sem reservas as suas intenções, pode dar-se o caso de, tendo como exemplo o/a líder, as restantes pessoas baixarem a guarda, permitindo uma aproximação que será extraordinária a um nível pessoal e, também, para a criação de fotografias que constituirão boas memórias para todos os envolvidos. Paralelamente, devido à socialização envolvida nesta forma de abordagem, também será mais fácil identificar modos de comportamento que, inadvertidamente, poderiam ser ofensivos, evitando-os.
![20160317_05135_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933278320160317_05135_ONLINE.jpg)
Legenda: Existem situações em que é vital respeitar a hierarquia social das pessoas que visitamos, garantindo que nada é feito de forma contrária aos costumes e regras locais. Foi o que aconteceu nesta fotografia de um homem da tribo Karo.| Vale do Omo, Etiópia. © Joel Santos – www.joelsantos.net
8. Retribua fotograficamente
Sobretudo quando se fotografa pessoas, não é descabido pensar que se “leva” algo connosco — não a alma em sentido estrito, mas um pedaço da história de alguém que aceitou ser fotografado. Neste sentido, como forma de genuína cordialidade, poderá fazer sentido retribuir o gesto com outro igualmente generoso e altruísta. Oferecer o nosso tempo, a nossa simpatia e o nosso sorriso são poderosos símbolos de gratidão, mas, sempre que possível, será ainda mais cortês deixar uma fotografia impressa. Esta última poderá ser enviada posteriormente pelo correio ou por e-mail; ou, melhor ainda, impressa num quiosque local e oferecida como uma surpresa. Alternativamente, existem impressoras cujo tamanho não excede a palma da mão e que funcionam a pilhas, permitindo imprimir uma imagem poucos instantes depois de esta ter sido realizada, nem que seja com a câmara integrada de um telemóvel. E há poucas coisas melhores do que fazer alguém feliz com algo criado por nós.
![20160121_10371_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933278520160121_10371_ONLINE.jpg)
Legenda: Um dos momentos de grande felicidade deste jovem rapaz, o Jacob, foi receber uma fotografia impressa de um momento registado no dia anterior, enquanto jogava futebol com os seus amigos, no centro de acolhimento de crianças resgatadas ao tráfico infantil. | Kumasi, Gana. © Joel Santos – www.joelsantos.net
9. Acorde cedo, deite-se tarde
Frequentemente, as férias estão associadas com o descanso prolongado, porém encontrar as melhores oportunidades fotográficas implica acordar muito cedo ou recolher para repousar mais tarde do que o habitual. Dependendo da localização e do motivo central das fotografias, optar por horários matutinos e noturnos tem a vantagem de evitar as grandes massas de turistas, sendo mais fácil deambular pelos lugares e ter um contacto mais relevante com a vida local, tipicamente envolvidos por uma luz natural mais generosa e especial do que a que caracteriza o período vespertino. Caso não seja viável apostar nos dois horários propostos, então concentre-se naquele em sente existir maior probabilidade de sucesso — o instinto é uma ferramenta poderosa, sobretudo quando polvilhado por um bom planeamento e informação sobre o que pretende fotografar.
10. Faça apontamentos
É sobejamente sabido que uma imagem vale, pelo menos, mil palavras. Ainda assim, essas palavras podem não conter toda a informação relevante sobre os locais ou pessoas retratadas, as quais poderão ser essenciais numa futura visita ou para melhor documentar a sua narrativa visual. Como tal, considere apontar os nomes e endereços das pessoas que fotografou, as coordenadas geográficas dos sítios visitados, a orientação da luz a uma determinada hora, as dificuldades encontradas e as histórias peculiares que não encontrou em nenhum guia de viagens.
![20160424_01061_ONLINE (1).jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933278920160424_01061_ONLINE-1.jpg)
Legenda: E sobejamente conhecida a beleza que circunda a aldeia da Estrela, situada na margem Oeste do Alqueva, cujas coordenadas de GPS há muito que tinham sido anotadas conhecidas, o que permitiu regressar a ele com facilidade. Mas momento aqui retratado tornou-se especial graças à presença inesperada de um saxofonista, Luís Nascimento, um contacto prontamente apontado para poder, mais tarde, enviar a fotografia realizada. | Alentejo, Portugal. © Joel Santos – www.joelsantos.net
11. Conte uma história
Quem fotografa, assim como quem escreve, procura contar uma história. No entanto, tal como um romance bem-sucedida pode depender de vários capítulos e personagens, uma narrativa visual apelativa pode necessitar de mais do que uma fotografia, na qual um conjunto de imagens é mais eficaz na transmissão de uma mensagem do que uma fotografia seria isoladamente. Neste contexto, sem abdicar de um fio condutor, procure diversificar as suas composições, alterando o ângulo de abordagem, a proximidade e afastamento face aos motivos centrais, entre outras variações que induzam ritmo na história que deseja criar e partilhar.
![20160310_05471_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933279120160310_05471_ONLINE.jpg)
Legenda: Esta fotografia faz parte de uma extensa história sobre os mineiros de sal que trabalham na Depressão de Danakil, Etiópia, oferecendo uma perspetiva única sobre a caravana de dromedários usados para o transporte do mineral extraído e sobre os padrões gerados pelos depósitos existentes neste deserto de sal. © Joel Santos – www.joelsantos.net
12. Divirta-se e apaixone-se
É preciso não esquecer que está de férias e que desfrutar estará na ordem do dia. Fotografar não é incompatível com esse desígnio, até porque, não raras as vezes, as fotografias com maior significado nascem de situações em que se estava a divertir ou apaixonado pelo que fazia. Esses sentimentos positivos são transferidos para o ato criativo, dotando as fotografias de uma energia singular que é impossível de recriar — a sua energia.
![20160430_00344_ONLINE.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/933279320160430_00344_ONLINE.jpg)
Legenda: A paixão pela Natureza faz com que cada momento passado a explorá-la e fotografá-la seja enriquecedor, permitindo que nos cruzemos com outras pessoas que partilham o mesmo gost, como o José Brito, que se empoleirou numa formação geológica, contemplando a Frecha da Mizarela, uma cascata com cerca de 60m de altura.| Serra da Freita, Portugal. © Joel Santos – www.joelsantos.net