Anos a seguir tendências ensinaram-nos que a coisa mais importante no que toca a ter um estilo pessoal é ter alguma coisa única. Coco Chanel sabia disto, e de muitas outras coisas, quando afirmou: ” Para se ser insubstituível deve-se sempre ser diferente.”
Pode ser o timbre de voz, um baton que acaba por ser o ’’nosso’’, um aroma que se confunde com o da nossa pele, um traço de eyeliner posto de uma certa maneira, um corte de cabelo ou uma joia sem a qual não nos conseguimos imaginar… a lista é extensa e não tem limite!
É isto que propomos apresentar nesta coluna: desafiar a vossa imaginacão e inspirar-vos a correr riscos, tendo em conta o imenso arsenal de escolhas que hoje temos à nossa disposição.
Aqui deixamos algumas ideias baseadas em mais de vinte anos de experiência profissional.
O eyeliner
Se existe um clássico incontornável na história da maquilhagem é o eyeliner, khol na sua versão mais antiga. Um simples traço negro junto às pestanas ou uma ‘moldura’ contornando o olho, e eis que se dá magia: o olhar ganha profundidade e torna-se muito mais intenso.
Os primeiros registos da sua utilização remontam ao Antigo Egipto e à Mesopotâmia, onde era usado por homens e mulheres como protecção contra o impiedoso sol do deserto mas também como escudo protetor contra maus olhados. Apresentado sob diversas formas e texturas, e com um sem fim de possibilidades, é reintroduzido no Ocidente nos anos 20 do século passado e rapidamente popularizado pelas primeiras estrelas de cinema mudo. Desde essa época até aos nossos dias, o eyeliner teve inúmeras interpretações e muitas foram as mulheres célebres que dele fizeram a sua assinatura: Clarice Lispector, Maria Callas, Edie Sedgwick ou Amy Winehouse são apenas alguns dos exemplos mais ilustrativos. Já Greta Garbo e Marlene Dietrich usavam-no para disfarcar a aplicação de pestanas postiças… Mais tarde, nos anos 50, surge o chamado ‘olho de gazela’, uma das suas versões mais felizes e a cereja no topo do bolo do recém-criado New Look de Christian Dior, uma silhueta sofisticada e muito feminina destinada a glorificar a mulher após os austeros anos da 2ª Grande Guerra. A manequim Dovima foi a sua embaixadora perfeita.
Marilyn, outra fã desta pequena maravilha, aplicava um traço fino ao longo da linha das pestanas engrossando-o nos cantos exteriores de modo a ‘levantar’ o olhar, no seu caso ligeiramente descaído. Nos anos 60, actrizes de beleza exuberante como Sophia Loren ou Brigitte Bardot dão-lhe um novo fôlego e tornam-no num ‘acessório’ indissociável da sua imagem com forte cariz sexual. B.B., apesar da revolução que provocou ao impôr um novo modelo de beleza, muito mais livre e quase selvagem, gastava bastante do seu tempo a maquilhar-se e raramente se deixava ver de cara lavada. Confirma-se: a simplicidade é, quase sempre, fruto de muito trabalho! Hoje em dia, com a presença assídua nas passereles e nos editoriais das revistas de moda, mesmo quando desaparece das tendências é por pouco tempo. Não há dúvida, o eyeliner veio para ficar.
Três aplicações fáceis
* Nao termine o traço do eyeliner antes do final da linha das pestanas nem sem lhe dar uma forma definida. Se tiver dificuldades, faça um risco ligeiramente mais grosso e, com um cotonete humedecido (não molhado), vá retirando o excesso de tinta até obter o efeito pretendido.
O look que sugerimos
Esta é uma sugestão que, à exceção do eyeliner e da máscara, pode aplicar com a ponta dos seus dedos. O resultado é muito mais natural e a sua pele agradece.
Porque Não?…
Usar baton forte com um eyeliner também forte?
MUSAS
Diana Vreeland
Mulher à frente do seu tempo, carismática, inconformista, sofisticada e dona de uma imaginação incendiária, Diana Vreeland (1903-1989) foi uma figura incontornável na história da moda do séc. XX. Em 1955, quando encomendou a decoração do seu apartamento nova-iorquino a Billy Baldwin, disse-lhe:
“Quero que a sala pareça um jardim, mas um jardim no inferno!”
O resultado foi um espetacular cenário vermelho-escarlate onde se deixou fotografar para a posteridade (já numa certa pose do mito que viria a tornar-se). Durante os anos em que trabalhou para a Harper’s Bazaar (1936-1962) e, mais tarde, na Vogue (1963-1971), mudou para sempre a forma de apresentar roupa e tendências. Nesta última revista conheceu Richard Avedon, então um jovem fotógrafo e, apesar do início da sua relação profissional ter sido atribulado (Avedon recusava trabalhar com ela…), a esta parceria se devem algumas das melhores imagens de moda que o mundo já viu. Anos mais tarde, o fotógrafo afirmou: “Ela foi, e continua a ser, a única editora de moda realmente genial.”
Um dos seus grandes sucessos foi uma coluna na Harper’s Bazaar intitulada “Why don’t you?…” (E porque não?…). Nela Diana propunha um mundo de glamour e fantasia às suas leitoras, incitando-as a quebrar rotinas e a darem largas à sua imaginação. Em suma, a divertirem-se, por vezes com sugestões completamente extravagantes. Esse era o seu espírito.
Os tempos mudaram e não temos a pretensão de estar à altura do furacão criativo que era Diana Vreeland mas, seja como for, esta mulher continua a ser uma fonte inesgotável de inspiração e, por essa razão, aqui fica a nossa homenagem. Se quiser saber mais, vale a pena ver o documentário The eye has to travel, de Lisa Immordino Vreeland ou ler a sua autobiografia, D.V..