Tiago Brandão Rodrigues defendeu na Assembleia da República que o fim dos contratos de associação com os colégios privados nas localidades onde existissem opções públicas se devia à falta de recursos do Estado para pagar dois serviços em simultâneo.
Na terça-feira, 10, o Público assegura, depois de ouvido o gabinete do ministro da Educação, que “serão tomadas as medidas necessárias para responder aos casos em que as escolas não tenham já capacidades de recursos humanos instalada”. Ou seja, conclui o jornal, em título, “Ministério admite contratar professores despedidos de colégios”.
Algo vai mal no reino da 5 de Outubro. Se a medida é para poupar, então como vai o Ministério gastar mais dinheiro na contratação de professores, “designadamente de docentes e de não-docentes”?
O ministro disse também aos deputados que nada o movia contra as instituições privadas do ensino básico e secundário. Mas se o seu ministério admite que mais dinheiro será gasto com contratações (para aliviar as críticas de que a medida que tomou resultaria no maior despedimento coletivo de professores?), o argumento apresentado na Assembleia da República é, no mínimo, fumo para os olhos.
Percebe-se, assim, porque Passos Coelho de atirou à jugular de Tiago Brandão Rodrigues, no fim de semana, quando o acusou de servir outros interesses? Não sei, não sou íntimo dos pensamentos e raciocínios do líder da Oposição. Sei, contudo, que o ministro e a máquina que dirige (?) se puseram a jeito.
As escolas não deviam ser julgadas pela condição da sua propriedade. Uma escola privada pode ser má, assim como uma pública. Não faz sentido asfixiar uma privada boa apenas porque existe uma pública (boa ou má) por perto, assim como não faz sentido subsidiar escolas privadas más apenas porque não há uma opção pública. O cerne da questão não é a titularidade da propriedade mas apenas essa questão que parece não preocupar ninguém: a qualidade do ensino ministrado.
Tiago Brandão Rodrigues tem sido desastrado desde os primeiros momentos da sua atividade executiva – cancelamento dos exames sem explicações, apresentação das provas de aferição em cima do joelho, alteração dos programas curriculares sem justificação de monta, dando às escolas a possibilidade de definirem 25% dos seus currículos. É muito e mexe com muita gente. O ministro tem de começar a dar explicações e deixar de se proteger atrás dos seus secretários de Estado, os únicos que têm vindo a público, às pinguinhas, reagir ao bruá que cada medida do Ministério provoca.
PS: Fernando Medina governa a cidade de Lisboa sem ter ido a votos. António Costa passou-lhe a gestão da maior autarquia da cidade quando passou a líder do PS e concorreu às legislativas. Suponho que Medina vá ser candidato nas próximas autárquicas, como qualquer observador deduzirá, depois da campanha de entrevistas em que se tem desdobrado.
Talvez por isso lhe valha a pena lembrar que os turistas estrangeiros não votam no mayor de Lisboa. E que os que votam estão nesta terça-feira, 10, a preparar um buzinão de protesto por causa das obras do Eixo Central. Se cada obra por si tem as suas virtualidades – eu gostaria de ver bicicletas a circular do Campo Grande à Baixa –, talvez seja sensato repensar o calendário. Faz sentido ter o Arco do Cego, a 5 de Outubro, a Fontes Pereira de Melo, o Cais do Sodré, o Campo das Cebolas e, em breve, a Segunda Circular em obras em simultâneo? Medina quer mudar a cara a Lisboa ou implodi-la? Sabemos que quer mostrar obra, mas talvez seja a hora de tirar o pé do acelerador antes de estampar o carro numa derrota eleitoral…