As sondagens têm ilustrado uma tendência de crescimento da coligação de direita em relação ao Partido Socialista. De uma situação de empate virtual, a três dias das eleições os estudos de opinião apontam para um avanço dos sociais-democratas e populares. Eu penso que a agulha ainda vai apontar mais para o norte da coligação no dia da votação, mas se se confirmarem a 4 de outubro as intenções de voto até agora manifestas nas sondagens, vamos ter um governo de maioria relativa no Parlamento. O que coloca várias cenários possíveis para os próximos meses:
1. A coligação forma governo mas sem maioria parlamentar que a sustente. Tudo fica nas mãos do PS, cujo líder afirmou, durante a campanha eleitoral, que não aprovaria nem o programa de governo nem o Orçamento de Estado da Direita. Se o PS recuasse e deixasse passar (abstendo-se?) o programa e o Orçamento de Estado, talvez fosse necessário empurrar Costa para fora do Partido Socialista, chamando um líder de transição. Mas Passos e Portas ficariam a prazo e, logo que o PS julgasse ter condições para ganhar uma nova disputa eleitoral, o governo cairia por via parlamentar.
2. Passos recusa formar governo por falta de condições. O Presidente da República chama o segundo partido mais votado, o PS, para formar governo. Com uma maioria de esquerda no Parlamento, o líder do PS teria de retirar do seu refúgio oposicionista (parasitário?) o PCP, o BE ou ambos. Não será tarefa fácil, mesmo para um convicto “homem de consensos”, como Costa gosta de ser considerado. E Cavaco Silva, daria posse a um governo com estas características, de que fariam parte partidos que no seu ADN pugnam pela saída do Euro ou pela renegociação do stock da dívida pública? Teria a sua ironia…
3. Também o PS se recusa a formar governo, por falta de consenso com os comunistas e os bloquistas. Então, Cavaco Silva só teria uma opção: promover um governo de “inspiração” presidencial, escolhendo uma figura aceitável pela maioria parlamentar para governar o país. Provavelmente seriam cooptados ministeriáveis da órbita dos dois mais votados. Como a Constituição da República, no artigo 172, ponto 1, impede a dissolução da Assembleia da República durante os últimos seis meses de mandato do Presidente, este seria também um governo a prazo e na primavera, depois das presidenciais de janeiro, teríamos novas eleições.
Nenhum destes cenários é satisfatório. Portugal precisa de um governo duradouro para enfrentar os intermináveis desafios que não desapareceram durante esta lua-de-mel a que chamamos campanha eleitoral: o desemprego está alto, os rendimentos baixos, a dívida pública não para de crescer, o défice desliza perigosamente para cima dos 3%, a embriaguez do crédito regressou, o sistema de pensões precisa de reforma, a justiça continua paralisada… Por isso é necessária uma vitória duradoura da coligação ou uma derrota estrondosa, que consagrasse uma mudança de rumo e permitisse ao PS mostrar ao que vem. Qualquer destes cenários seria preferível a ficarmos reféns de governos a prazo e sem rumo…