Havia um poeta que de tão poeta se julgava louco.
Preocupado com a sua saúde mental, enviou carta a seus amigos de infância para saber o que dele achavam, fingindo-se outro: note-se a graça e a ironia.
Não, não, não, não era o típico caso de um louco que também era um génio lá no fundo. Não, não, não, é o contrário: era um génio que de tão génio duvidou de si! Todo este poder só pode ser doença, uma espécie de vírus, alguma coisa que vem de fora, terá pensado o poeta.Como posso ter tanto para dar num corpo tão normal quanto os outros corpos?
Caro Pessoa, dou-te hoje a minha resposta, a ti que foste meu companheiro de infância, mesmo que não tenhamos sido amigos: obrigado por fazeres do corpo um lugar que vale a pena viver, um lugar onde a partir dele se pode ser quem quisermos, se pode sentir o que quisermos, porque todos os coletes de forças já foram arrebentados por ti.