Jean-Claude Juncker está a começar bem como Presidente-eleito da Comissão Europeia. Conseguiu, pelo menos nesta fase inicial, inverter a tendência dos últimos anos de enfraquecimento do executivo da União. Depois de um Barroso cansado, sem gás, que deixara os governos nacionais marginalizar a Comissão, Juncker aparece como um líder politicamente astuto e determinado. Com uma longa experiência no tabuleiro dos jogos europeus, percebeu que era importante ter à sua volta um grupo de vice-presidentes que lhe sirvam de filtro e de para-choques. Fica, assim, com espaço para as questões estratégicas e para manter as ligações aos dirigentes dos estados membros e aos principais tenores no Parlamento Europeu. É aí, na qualidade dessa ligação, que a coisa vai ou racha. O Presidente da Comissão tem que ter tempo para manter um contacto contínuo e bem pensado com os que contam. Não se pode falar com os leões que são os chefes de Estado e de Governo, nem com as raposas do Parlamento, com base em improvisações ou apontamentos mal digeridos.
Uma outra nota sobre a mudança de caras em Bruxelas: o poder deslocou-se para o nordeste da Europa. É verdade que Juncker é, por cultura política, um homem do centro, uma ponte entre os preconceitos do norte e do sul da Europa. Mas a maneira como distribuiu as pastas favoreceu claramente a Holanda, a Finlândia e os países bálticos. O nordeste. Deu responsabilidades acrescidas a uma nova geração de políticos desses países, todos eles inspirados numa interpretação estrita de disciplina na área financeira e de liberalismo, em matéria económica. Sem contar que do outro lado da rua vamos ter outro homem forte vindo também do Leste, Donald Tusk, o primeiro-ministro polaco cessante. Passa agora a existir um núcleo decisivo em Bruxelas que, em matéria de governo, é conservador e, na área das relações internacionais, é marcadamente pró-americano e muito desconfiado com a Rússia. Há, por isso, que estar atento e exigir à nova equipa que ponha o pragmatismo e os interesses da paz e da prosperidade na Europa acima dos velhos fantasmas. A voz de Portugal, no seio desta equipa, pertence a alguém que é visto por Juncker e pelos pesos-pesados como um júnior. Um jovem de boas maneiras e ar limpo, é verdade, mas um peso-pluma.
Num conjunto em que a experiência política é a marca definidora – seis antigos primeiros-ministros passarão a estar à frente das instituições europeias – a escolha portuguesa parece estar fora de contexto. Enviámos um suplente para jogar numa equipa de campeões. Um secretário de Estado ainda um pouco verde. Carlos Moedas tem desafios enormes pela frente. Terá que convencer o resto da companhia que tem maturidade e coragem políticas, para além de ideias e capacidade para obter resultados. Deverá, igualmente, prestar uma atenção especial à maneira de comunicar e de saber estar. Vai precisar de uma assessoria de imagem experiente, para além do apoio científico que lhe faz falta. Se mostrar, no início, que anda perdido pelos corredores do Berlaymont, a dizer umas coisas ocas, o prestígio necessário ao bom desempenho da função que lhe foi atribuída ficará seriamente afetado. Numa equipa de lobos, poderá rapidamente esgotar-se a paciência para capuchinhos cor de laranja. Fora isso, e em nome dos interesses da inovação científica, só lhe posso desejar os maiores êxitos.