Jorge de Sena, como é geralmente sabido, não nasceu no Porto, mas passou nesta cidade alguns anos (1940/1944), em quartos alugados, na rua de Cedofeita, quando veio estudar engenharia.
A faculdade funcionava, então, na rua dos Bragas, onde está, agora, a Faculdade de Direito. Mas teve que fazer os “preparatórios” em Ciências que, à altura, estavam no edifício onde agora funciona a Reitoria da Universidade, no granítico imóvel da praça de Gomes Teixeira. Foram as andanças por estes sítios que o puseram em contacto com os plátanos da Cordoaria que ele evoca num poema comovedor (“A ode aos plátanos“), que publicou em “Poesia I: Pedra Filosofal – 1950“: Ó plátanos dourados e nodosos …”.
Todos nós sabemos que o plátano é uma árvore que veio para a Europa cerca de 1548 e que são espécies de enormes proporções. É, por via de regra, utilizada para debruar estradas ou largas avenidas onde se possa expandir à vontade.
Os plátanos da Cordoaria são de 1860, do tempo da criação do jardim, assim chamado por ter sido construído no local onde, antigamente, haviam funcionado as rodas com que os cordoeiros entrançavam o cordame, destinado aos barcos que se construíam nos estaleiros de Miragaia. Situavam-se (os plátanos) na alameda que fica no limite poente do jardim. E ainda lá estão como no tempo de Sena, deformados, dizem as crónicas, por uma moléstia que os atacou.
Dir-se-ia que bizarros escultores surrealistas andaram por ali, invisíveis, a esculpir estranhas formas nos troncos daquelas árvores seculares. Alinhados ao longo dos dois lados da alameda, os plátanos, assemelham-se a filas de mendigos no caminho de romaria a pedir “pelas almas que lá têm “a esmola que os ajudará a curar os aleijões.
Nesta época do ano, em que se apresentam desnudos, sombrios, desgarrados, com as suas monstruosidades cobertas por fina camada de musgo, os plátanos da Cordoaria são a imagem mais crua e mais real do inverno. Pouca gente vê neles poesia. Na verdade, só os poetas dão por ela.