Dia 12 de Maio de 1809. Havia 45 dias que o general Soult entrara no Porto, à frente das tropas napoleónicas, na segunda invasão perpetrada por Napoleão contra Portugal. Para residência e seu quartel-general, Soult escolheu o palácio dos Carrancas, onde agora está o Museu Nacional de Soares dos Reis. Foi aí que, na manhã daquele dia, na vã tentativa de captar a simpatia dos portuenses, assinou um decreto segundo o qual mandava distribuir 3.700 pipas de vinho, que sequestrara a negociantes ingleses, por hospitais e recolhimentos do Porto e (imagine-se!) pelo santuário do Senhor de Matosinhos.
O que Soult não previra é que nessa mesma manhã, ainda antes do almoço, teria que fugir do Porto acossado pelas tropas anglo-lusas que, sob o comando do general inglês Arthur Wellesley haviam atravessado o rio Douro durante a noite e já enfrentavam os franceses por alturas do sítio do Prado (atual cemitério do Prado do Repouso). Um estafeta francês correu ao palácio dos Carrancas a avisar Soult de que ingleses e portugueses já estavam a combater os franceses nas ruas do Porto. Ainda não era meio-dia. O general de Napoleão pegou na espada, montou a cavalo e, na companhia do seu Estado-maior, correu para o sítio do Reimão, a avenida de Rodrigues de Freitas dos nossos dias, mas já não teve tempo de regressar ao palácio dos Carrancas.
A situação militar era muito adversa para os franceses e Soult mandou reunir as suas tropas e com elas retirou pela estrada de Valongo. Consta de uma velha crónica que quando o general inglês Wellesley chegou ao palácio dos Carrancas encontrou a mesa posta com o almoço que fora confecionado para Soult. Ao que parece, Wellesley, fazendo jus àquele ditado bem português que diz, “guardado está o bocado, para quem o há-de comer ”, não se fez rogado e lá comeu a refeição que se destinava ao seu adversário francês. A gente não sabe se a história tem algum fundo de verdade. Mas, como diria o outro: “ se non é vero, é bono trovato…”