Portugal é campeão da Europa de futebol, tem o melhor jogador do mundo e exporta, por valores exorbitantes, futebolistas e treinadores para toda a Europa. Quando chega, porém, a hora de analisar o desempenho das suas equipas nas competições europeias, o balanço é pouco mais do que negro. Salvo raríssimas exceções, o comportamento dos clubes nacionais é medíocre. E a jornada europeia desta semana foi mais um exemplo desta triste realidade.
A coisa começou mal, logo na quarta feira, 2, com o Benfica. Depois da derrota da primeira jornada, em casa, diante dos alemães do RB Leipzig, os encarnados voltaram a perder, desta vez frente ao Zenit de São Petersburgo. Os mais desatentos até podiam considerar normal perder em casa do campeão da Rússia, país que ocupa o posto acima de Portugal no ranking europeu de clubes. O problema é esta foi a 12ª derrota do Benfica nos últimos 15 jogos a contar para a Liga dos Campeões. Uma tendência que mostra claramente a falta de estofo internacional do campeão português. Por mais que os seus dirigentes e treinadores prometam uma nova “dimensão europeia”, a verdade é que ela teima em não chegar. Com uma equipa recheada de equívocos, Bruno Lage parece perdido, incapaz de replicar a dinâmica que levou a equipa à conquista do título nacional da época passada e a golear o Sporting na final da Supertaça, em agosto último. Com mais ou menos esforço, o Benfica lá vai conseguindo vencer os seus jogos no campeonato, mas mostra claras dificuldades quando enfrenta adversários de outro gabarito, como ficou patente nas derrotas com o FC Porto e na Liga dos Campeões. Treinador e dirigentes (sobretudo o Presidente) parecem ter ficado inebriados com o sucesso da época passada e julgam possível repetir o feito este ano, usando apenas a prata da casa. Como se bastasse um estalar de dedos para sacar mais uma pérola do Seixal. Esquecem-se que craques como João Félix não aparecem todos os anos…
Banheira de água gelada
No dia seguinte, esperava-se bastante mais dos representantes portugueses na Liga Europa. Sobretudo de um FC Porto que é, indiscutivelmente, a equipa portuguesa com mais estofo europeu. É verdade que, esta época, perdeu a hipótese de competir na Liga dos Campeões ao perder em casa com os sofríveis russos do Krasnodar, mas a experiência de uma equipa habituada a qualificar-se para as fases a eliminar da “primeira divisão europeia” parecia suficiente para que o vice-campeão português não sentisse grandes dificuldades para ultrapassar a fase de grupos de uma Liga Europa que não pode deixar de ser considerada a “segunda divisão” do futebol continental. A verdade, porém, foi que a deslocação ao mítico De Kuip – estádio a que chamam “a banheira de Roterdão”, onde, em 2000, Sérgio Conceição viveu uma das mais brilhantes noites da sua carreira de futebolista, ao marcar os três golos da vitória de Portugal à Alemanha – foi uma desilusão. O FC Porto voltou a exibir as mesmas fragilidades que vem revelando no campeonato nacional: falta de eficácia goleadora e erros defensivos comprometedores. Por cá, a coisa vai dando para remendar e as vitórias aparecem. Na Europa, perante um adversário competitivo como é o Feyenoord, as inúmeras oportunidades perdidas e as faltas de concentração defensivas foram fatais.
Honra do convento
Em Braga esperava-se mais do Sporting local. Depois de vencer, em Inglaterra, o Wolverhampton, na primeira jornada, era plausível acreditar que os bracarenses aproveitassem a receção aos eslovacos do Slovan Bratislava para somar mais três pontos e consolidar o primeiro lugar do grupo. Acontece que, mesmo tendo estado duas vezes em vantagem no marcador, o clube orientado por Ricardo Sá Pinto voltou a claudicar e deixou-se empatar. Está, ainda assim, numa boa posição para conseguir a qualificação para a próxima fase da Liga Europa. Já o mesmo não se pode dizer do vizinho Vitória de Guimarães, que perdeu em casa com os alemães do Eintracht Frankfurt (semifinalistas vencidos da época passada). É a segunda derrota em dois jogos, num grupo difícil, que torna ainda mais difícil a tarefa dos minhotos.
A única vitória da jornada europeia aconteceu em Alvalade, apesar de mais uma pálida exibição do Sporting. Durante todo o jogo, foram os modestos austríacos do Lask Linz que tiveram as melhores ocasiões de golo, desperdiçaram mesmo a oportunidade de golear, mas acabaram por ser vítimas da sua completa inexperiência europeia. Sorte do Sporting, que consegue a segunda vitória sob a orientação de um novo treinador e ganha aqui algum fôlego para aproveitar a paragem do campeonato para os jogos da seleção para se tentar recompor e reorganizar, depois de um início de temporada desastroso, marcado por uma profunda e já crónica instabilidade.
Até quando?
É verdade que todas as equipas portuguesas (umas mais do que outras, diga-se) têm ainda possibilidades de garantir a passagem à próxima fase das competições europeias. Nada está perdido e pode até acontecer que alguma delas venha a conseguir um brilharete. Mas fica claro que isso só acontecerá, uma vez mais, de forma fortuita. Nunca porque seja esse o desígnio do futebol português, cujos principais protagonistas preferem continuar de costas voltadas, em lutas clubísticas intestinas, em vez de trabalharem juntos para elevar a qualidade, competitividade e dignidade das competições internas. Só quando isso acontecer vai ser possível organizar um campeonato capaz de atrair adeptos aos estádios e gerar receitas que, distribuídas de forma mais equitativa, permita às equipas segurar os seus principais talentos mais tempo, contratar com mais critério e ter mais sucesso. Aqui e lá fora. Até lá, vamos ter de continuar a sonhar com milagres europeus e, pelo meio, a assistir ao triste espetáculo que só alimenta tertúlias de “paineleiros”.