De visita à Madeira, no âmbito do Roteiro da Economia Dinâmica, o que o Presidente da República acaba por fazer, na prática, é adiar por mais uns dias a decisão sobre o futuro Governo. Ao mesmo tempo, dá sinais, para quem os quiser ler, de não estar preocupado com a possibilidade de Pedro Passos Coelho ficar a governar o País em gestão, durante meses.
Mas a hesitação de Cavaco Silva revela um incómodo. E foi esta sucessão de factos e interpretações que me trouxe à memória outro momento desconfortável para Cavaco, há coisa de 20 anos. Estávamos a 28 de outubro de 1995 e António Guterres havia ganho as eleições legislativas com 43,8% dos votos e apenas 112 lugares na Assembleia da República. Era uma maioria relativa, como outras a que o País já assistira, sem quaisquer coligações no horizonte.
Nesse dia, na Sala dos Embaixadores do Palácio da Ajuda, o primeiro-ministro cessante Cavaco Silva assistia em pé, rodeado de convidados e em ambiente quente, à tomada de posse do seu sucessor, do PS. Durante o discurso do então Presidente Mário Soares, deu-se o episódio: Cavaco desmaiou. Aconteceu-lhe outras vezes, como na cerimónia do 10 de junho de 2014, na Guarda, quando uma síncope o levou a interromper a sua prórpia declaração (na foto principal).
Perante a possibilidade de o PS de António Costa vir a ser Governo pela mão de Cavaco, é impossível não recordar esse instante de 1995 em que o ex-primeiro-ministro perdeu a força nas pernas e escorregou sobre si próprio, esbarrando nos convidados, que logo o seguraram e esconderam.

O desmaio de 1995
À saída da cerimónia, Cavaco Silva justificou o desfalecimento com o facto de não ter dormido na noite anterior e de estar a passar pela dor da perda de um familiar querido – o pai de Maria falecera um dia antes. Mas que essa síncope da tomada de posse ficou para a história, lá isso ficou. E como dizia Hegel, o filósofo alemão: “A História repete-se sempre, pelo menos duas vezes”. Karl Marx acrescentou, no primeiro parágrafo de O 18 de Brumário de Luís Bonaparte: “A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.