A perda de uma relação amorosa, para alguns, é uma verdadeira experiência traumática. Apesar do estigma social que desvaloriza o sofrimento desta perda e contribui para silenciar a dor, este pode ser o processo de luto mais doloroso do ciclo da vida de uma determinada pessoa. Neste sentido, a psicologia tem vindo a comparar a perda de uma relação com o processo de luto por morte real de uma pessoa próxima, dadas as semelhanças nas reações emocionais.
Em primeiro, o anseio e o desejo de recuperar a pessoa perdida. Não é só na morte que gostaríamos de ter a pessoa perdida de volta. Enquanto seres humanos, tendemos a permanecer onde e com quem já conhecemos, mesmo que estejamos numa relação tóxica. É como se nascêssemos com uma necessidade de permanecer com tudo o que é familiar, conhecido, dado que a estabilidade e a segurança são tão importantes para o nosso bem-estar (e é também por isso que temos medo do desconhecido). Como consequência desta necessidade, uma separação emocional tende a ser dolorosa e a ativar o anseio pelo outro, ou seja, a vontade ou o desejo de recuperar a pessoa perdida e retomar o relacionamento.
Em segundo, a solidão. Não é apenas uma morte que nos faz sentir sozinhos ou abandonados. Um dos elementos que mais se aprecia numa relação é sentir que temos um “porto seguro” na pessoa ao nosso lado. Mesmo em situações em que o relacionamento já envolve fragilidades e distanciamento emocional, o ser humano gosta de sentir que não está só, que beneficia da companhia do outro. A sensação de estar sozinho numa casa anteriormente partilhada e a impossibilidade de desabafar e receber colo emocional do parceiro no final de um dia de trabalho são elementos que podem ativar sentimentos de solidão e o medo de ficar sozinho para sempre.
Em terceiro, a raiva. Aquando de uma morte, somos invadidos pela tristeza, impotência, injustiça e a mencionada raiva. O mesmo se aplica ao término de um relacionamento, em que esta emoção tende a ser alimentada pela sensação de que o outro nos acusa ou responsabiliza pelo fim da relação. Esta também pode existir no que diz respeito a nós próprios, por sentirmos que negligenciámos o relacionamento ou por termos concluído que ficámos demasiado tempo numa relação infeliz. Por acréscimo, a raiva pode ainda ser desencadeada pelo medo de começar do zero e/ou pelo medo de ficar sozinho.
Em quarto, a desesperança, ou seja, a tendência para ver o futuro sem esperança, de forma totalmente negativa e associada a uma postura de impotência relativamente ao que está por vir. Como se fosse impossível virar a página e seguir em frente. Quando nos confrontamos com a morte de alguém, ouvimos pessoas dizer que a vida deixou de fazer sentido. O mesmo se aplica ao término de um amor (o qual seria para a vida toda).
Para explorar mais profundamente as fases do luto após o fim de uma relação e os comportamentos que podem ajudar a reconstruir o equilíbrio emocional, convido à leitura do meu livro Virar a Página: Como lidar com o fim de uma relação – pensado para apoiar quem atravessa este processo de forma construtiva e consciente.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.