A influência dos Estados Unidos da América no mundo é inegável, da política à cultura, passando pelo desporto ou pela tecnologia, sobretudo desde a II Guerra Mundial e dos anos seguintes. Também na saúde, os EUA são centrais para o resto do globo. Ou, pelo menos, eram, até à segunda vida de uma Administração Trump na Casa Branca.
O primeiro sinal de algum alarme foi a escolha de Robert F. Kennedy Jr., negacionista das vacinas, para liderar a área da saúde pública, o que levanta muitas dúvidas e a certeza de que Trump não vai mudar o comportamento que mostrou na resposta à pandemia. A seu cargo está o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS), com um orçamento de quase dois mil milhões de euros.
A motosserra dos cortes orçamentais já começou a fazer as suas vítimas. O Instituto Nacional de Saúde (NIH), financiador de muitos dos estudos científicos que fazem dos EUA o país mais produtivo do planeta, já sofreu cortes, que, em breve, vão obrigar a escolhas pouco positivas. A Agência Americana para Desenvolvimento Internacional (USAID) também já viu o seu orçamento reduzido. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) e a Food and Drug Administration (FDA) também não escaparam à imposição de limitações.
Ainda mais visível é a anunciada saída da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os EUA devem abandonar a OMS até ao próximo ano, deixando dúvidas sobre a subsistência orçamental da instituição. Neste caso, lê-se, a ideia é de que os EUA possam voltar em 2027, caso consigam ter um norte-americano como líder da OMS, depois do fim do mandato de Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Esta é uma oportunidade para que nós, enquanto Europa, saibamos viver sem depender de ninguém. Sem pôr de lado as décadas de cooperação com os EUA, devemos pensar em ser o mais autossuficientes possível e em procurar outras parcerias pelo mundo fora. Existem recursos humanos de qualidade em todo o mundo e devemos lutar para que eles tenham as melhores condições de investigação.
A questão da saúde, tendo ramificações locais, e sabemos bem que o nosso SNS precisa de reformas, é, no mundo de hoje, dependente da cooperação internacional, juntando os melhores recursos em prol da melhor saúde da Humanidade. A lição Trump pode também ser transposta para a vida de todos nós, empreendedores da área da saúde. Devemos exigir mais dos nossos parceiros e tentar crescer com eles, mas o nosso sucesso não pode depender de mais ninguém a não ser de nós.
A saúde do mundo regressa, assim, dentro de momentos. Até lá, aprendamos, enquanto país e União Europeia, a explorar caminhos alternativos, podendo ser autossuficientes ou perto disso.
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