Se lhe pedissem para descrever o seu pai em três palavras, quais escolheria?
Todos carregamos alguma herança dos nossos pais. Para alguns, é a segurança de uma infância protegida. Para outros, é um vazio que nunca deixou de ecoar. Porque a verdade é esta: nem todos os pais o são. Ser pai não é sobre biologia, nem sobre um apelido partilhado. É um compromisso diário, um laço que se constrói na presença e não na ausência.
Ser pai é verbo, não substantivo.
Há ausências que fazem mais barulho do que presenças e a ausência de um pai pode ser um silêncio ensurdecedor. Pode estar na cadeira vazia de um recital, na falta de um abraço quando tudo desaba, na resposta que nunca chegou.
O cérebro humano não precisa apenas de comida ou abrigo. Precisa de vínculo. E quando esse vínculo falha, o corpo aprende a viver em alerta. Estudos mostram que a ausência paterna — seja física ou emocional — pode aumentar os níveis de stress e insegurança, afetando a autoestima e a forma como nos relacionamos na vida adulta.
Quem nunca teve um pai presente aprende, muitas vezes, a ser forte antes de estar pronto; a não esperar muito dos outros; ou então passa a vida à procura desse amor em lugares onde ele nunca esteve.
Há pais que não ficaram porque não quiseram. Outros porque não souberam como. Muitos foram ensinados que amar era apenas “trazer comida para a mesa”, não sentar-se à mesa para ouvir. E, sem nunca o perceberem, deixaram gerações a crescer na sombra de um amor que existia, mas não foi mostrado.
Só que amor que não se expressa é amor que não se aprende.
Um pai que nunca disse “estou aqui para ti” pode ter estado presente, mas o filho que nunca ouviu essas palavras talvez tenha passado a vida a sentir-se sozinho.
Se há algo que a vida ensina é que a paternidade não precisa de vir no sangue para ser real. Há padrastos que foram mais pais do que pais. Há avôs, tios, amigos que preencheram espaços que nunca deveriam ter estado vazios. E há aqueles que cresceram sem referência alguma e tiveram de ser o seu próprio abrigo.
E, quando um pai não fica?
A ausência pode marcar, mas não define. O amor que não recebemos não dita o amor que podemos dar.
Se teve um pai que foi chão e abrigo, agradeça-lhe hoje.
Se não o teve, lembre-se: há outras formas de reescrever a sua história. Comece já hoje.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
+ O impacto da instabilidade política na saúde mental
+ Se tirasse a máscara agora, o que restaria?
+ Quase amor, quase nada: os desafios emocionais das relações sem rótulos
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.