Talvez para surpresa de alguns, os resultados de 2024 do Índice TomTom (“o mais conhecido e reconhecido entre os estudos de circulação rodoviária e mobilidade no mundo”), foram divulgados e colocam Lisboa muito bem em vários dos parâmetros. Conseguimos até um impressionante terceiro lugar no nível de congestionamento mais baixo, quando comparados com as demais capitais europeias.
Ainda assim, quero trazer para a frente a discussão sobre como podemos ser e fazer melhor. Se, por um lado, estamos a ser comparados com Copenhaga ou Amesterdão, a verdade é que o mesmo índice aponta que gastamos 23 minutos e 47 segundos por cada 10 quilómetros que fazemos na cidade.
Temos então aqui dois pontos para analisar: as comparações que merecem algum louvor, e o ainda muito tempo que passamos no trânsito. A resposta para ambos, espante-se, caro leitor, é uma só – mobilidade partilhada.
Ainda estamos longe de uma realidade que seja comparável às capitais dos Países Baixos e da Dinamarca; é factual o investimento que tem sido feito ao longo da última década para a micromobilidade em Lisboa, mas não tem sido suficiente. O crescimento desta alternativa de meios de transporte continua, inclusive, a enfrentar constrangimentos em algumas vertentes, como seja a imposição de limites no número de trotinetes e bicicletas partilhadas.
Da mesma forma, os TVDE enfrentam um género de paradoxo na opinião pública: se, por um lado, são já parte integrante das vidas diárias de todos nós, por outro corre a narrativa de que estão com um mercado saturado e que não há espaço para mais, ou de que entopem as cidades, como proclamou inclusive Rui Moreira recentemente. No que toca em específico à mobilidade da Área Metropolitana de Lisboa (AML), os dados do Plano Metropolitano de Mobilidade Urbana Sustentável, apresentados a 7 de outubro, revelam que TVDE e táxi têm de facto vindo a ganhar importância – ainda que sejam uma minúscula percentagem quando comparados com o recurso à viatura particular. O estudo mostra que a indústria de TVDE e táxi representa 8% das deslocações para cuidados de saúde, 3% de lazer, 2% de compras, 2% de deslocações em serviço, e 1% de idas à escola na AML.
O que estes dois pontos ilustram é que, aparentemente, se estão a encontrar problemas que são soluções, e a ignorar o real bicho papão: o número infindável de veículos privados a entrar e a sair todos os dias da nossa capital. Mais de 20 minutos para se fazerem 10 quilómetros não devia ser aceitável. O tempo que ainda se perde no trânsito nas nossas áreas metropolitanas ainda é agonizante. Os custos que se têm, na compra e manutenção dos carros que usamos e que entopem as artérias das cidades, ainda mais pesados são (veja-se o recente aumento – mais um – nos preços dos combustíveis).
Aposte-se então em infraestrutura para mais meios de mobilidade partilhada. Invista-se em redes de transportes públicos realmente eficientes e com capacidade de resposta. Incentive-se a deixar o carro em casa, por forma a dar espaço a TVDE e táxis; para que possam aplicar um mercado mais competitivo e melhor para o consumidor. Talvez assim, dentro desse Tom(Tom), um dia cheguemos ao primeiro lugar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.