A medicina de precisão é uma abordagem médica inovadora que visa personalizar o diagnóstico e o tratamento de doenças com base nas características individuais de cada paciente. Esta abordagem leva em consideração fatores como a composição genética, o ambiente, o estilo de vida e outros dados biológicos específicos, em vez de utilizar tratamentos uniformes para todos os pacientes com uma mesma condição. A medicina de precisão tem o potencial de desempenhar um papel crucial na sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal, promovendo uma abordagem mais eficiente e personalizada para o diagnóstico e tratamento dos pacientes.
Ao contrário da medicina tradicional, que muitas vezes segue protocolos gerais para o tratamento de doenças, a medicina de precisão permite que os profissionais de saúde adaptem terapias e intervenções a cada pessoa de maneira mais eficaz. Isso é possível graças aos avanços em áreas como a genómica, a bioinformática e as tecnologias de análise de grandes volumes de dados (big data), que fornecem informações detalhadas sobre as características moleculares e genéticas de um paciente.
A medicina de precisão tem sido amplamente aplicada em áreas como a oncologia, onde o sequenciamento do DNA tumoral pode ajudar a escolher tratamentos direcionados que funcionam melhor para um determinado tipo de cancro. Contudo, o seu potencial estende-se a várias outras áreas, como doenças cardiovasculares, neurológicas ou infeciosas.
Em suma, a medicina de precisão visa otimizar os resultados clínicos e minimizar os efeitos colaterais ao garantir que os tratamentos sejam adaptados às características únicas de cada paciente.
Uma das formas mais importantes em como a medicina de precisão pode contribuir para a sustentabilidade do SNS é através da prevenção de tratamentos ineficazes. Ao utilizar testes genéticos e moleculares para identificar a melhor abordagem terapêutica para cada paciente, é possível evitar terapias desnecessárias ou que poderiam ser ineficazes, reduzindo assim o tempo e os recursos gastos em tratamentos que não trariam benefício ao paciente.
Além disso, a medicina de precisão pode ajudar a detetar doenças em fases mais precoces, quando são mais fáceis de tratar e menos dispendiosas. Por exemplo, com a genómica, é possível identificar indivíduos com predisposição a certas doenças, permitindo a implementação de medidas preventivas e um acompanhamento mais rigoroso, evitando o agravamento da condição e os elevados custos associados a tratamentos de doenças avançadas.
Outro fator relevante é a redução de hospitalizações e complicações. Tratamentos mais direcionados e eficazes podem diminuir a necessidade de internamentos prolongados, assim como o risco de efeitos colaterais graves, resultando numa gestão mais eficiente dos recursos do SNS. No entanto, a sua implementação no sistema de saúde português enfrenta diversos desafios e limitações.
Um dos principais obstáculos é o custo das tecnologias associadas, como o sequenciamento genético e testes moleculares avançados. Embora o custo desses testes tenha vindo a diminuir, eles ainda são relativamente caros e não estão amplamente disponíveis no SNS, limitando o acesso da população a tratamentos personalizados.
Além disso, existe uma falta de infraestruturas adequadas e de profissionais treinados em bioinformática e genómica para analisar e interpretar os dados gerados. Isso é crucial para transformar os dados em estratégias de tratamento eficazes. A carência de centros especializados em medicina de precisão e a fragmentação do sistema de saúde dificultam a implementação de programas integrados.
Outro desafio é a integração de dados clínicos e genéticos nos sistemas de informação hospitalares. A gestão e proteção de grandes volumes de dados genómicos também levantam questões éticas e de privacidade, sendo necessário um equilíbrio entre o uso eficaz dessas informações e a proteção dos direitos dos pacientes.
Por fim, a disparidade no financiamento e nos incentivos à investigação é outro fator limitante. A investigação em medicina de precisão requer investimentos contínuos e parcerias entre instituições públicas e privadas para garantir a sua sustentabilidade e aplicação prática.
Muitas multinacionais da área da tecnologia médica presentes no nosso mercado desempenham um papel crucial como facilitadoras da implementação da medicina de precisão no sistema de saúde em Portugal, ao fornecer tecnologias avançadas que permitem diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados. Através de soluções que integram imagiologia médica, inteligência artificial (IA) e dados clínicos, as empresas contribuem para a transformação digital da saúde, essencial para o avanço da medicina personalizada. É necessário investimento em plataformas de dados e soluções baseadas em IA que analisam grandes volumes de informação clínica e genética. Estas ferramentas permitem que os médicos obtenham insights mais rápidos e precisos, ajudando na identificação de biomarcadores e na previsão de respostas aos tratamentos. Essa integração de dados é essencial para que os hospitais portugueses possam adotar a medicina de precisão de forma eficaz.
A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), com o apoio institucional da Ordem dos Médicos e o apoio técnico da EY, promoveu em 2019 a iniciativa “Agenda estratégica para o futuro da medicina de precisão em Portugal”.
Esta iniciativa propõe objetivos estratégicos, orientações para a implementação e um plano de iniciativas para acelerar a implementação da medicina de precisão em Portugal que deverão ser revisitadas, revalidadas e implementadas para que esta abordagem possa ser uma realidade no nosso país a curto prazo.
Portanto, a implementação da medicina de precisão em Portugal ainda enfrenta barreiras que precisam ser superadas, tanto a nível financeiro como estrutural e ético. As empresas de tecnologia médica, entre outras presentes no nosso mercado, têm um papel muito relevante para mitigar os riscos de implementação e funcionar como catalisadores na aceleração da medicina de precisão em Portugal.
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