Nos dias de hoje, a linha entre a realidade e a ficção digital nunca foi tão ténue. Avanços tecnológicos, especialmente no campo da inteligência artificial, criaram um ambiente em que a manipulação de informações é mais fácil do que nunca. Esse fenómeno não só afeta o que vemos e ouvimos, mas também ameaça a nossa perceção da verdade, criando um mundo em que a confiança está em constante risco.
A ascensão dos deepfakes: a perda de confiança
Os deepfakes são uma das maiores inovações tecnológicas das últimas décadas. Por meio do uso de algoritmos de aprendizagem de máquina, é possível criar vídeos, imagens e áudios de alta qualidade que imitam de maneira convincente a aparência e a voz de qualquer pessoa. O problema é que esses conteúdos podem ser usados para fins fraudulentos, como criar discursos falsos de figuras públicas, manipular vídeos para comprometer reputações ou, mais alarmante ainda, criar conteúdo comprometedor com a intenção de extorquir indivíduos.
Esse tipo de tecnologia pode ser um perigo imenso para a democracia, para a segurança pública e até mesmo para a saúde mental das pessoas. Com a proliferação de deepfakes nas redes sociais, a confiança nas informações que consumimos fica diluída, levando à desinformação e à manipulação.
Redes sociais: o terreno fértil para a manipulação
As redes sociais tornaram-se o campo de batalha mais visível para essa guerra digital. Plataformas como Facebook, Instagram, X e TikTok, embora extremamente populares, têm-se mostrado vulneráveis à proliferação de conteúdo falso. Golpes, fraudes e campanhas de desinformação não são mais raridades; pelo contrário, são práticas diárias, que enganam e manipulam milhões de utilizadores.
Além disso, a busca incessante por engajamento e atenção cria um ciclo perigoso. A disseminação de conteúdo polarizado, muitas vezes alterado ou distorcido, favorece a criação de narrativas falsas, ampliando o impacto de deepfakes e outras formas de manipulação. E tudo isso ocorre em um cenário onde a educação digital ainda está longe de ser uma prioridade para a maioria dos utilizadores.
Golpes financeiros e o uso indevido de informações pessoais
Um dos aspetos mais preocupantes dessa nova realidade digital é o aumento de fraudes financeiras e golpes, frequentemente relacionados ao uso indevido de informações pessoais. Os criminosos têm-se tornado cada vez mais sofisticados, aproveitando-se da vulnerabilidade de indivíduos desinformados ou mal preparados para lidar com esses riscos.
Seja por meio de falsas ofertas de investimento, pedidos de dinheiro de perfis “verificados” ou, ainda mais alarmante, pelo uso de deepfakes para criar situações de emergência falsas, os golpistas estão a explorar a confiança das pessoas em figuras públicas e na realidade digital para alcançar seus objetivos.
Pessoas vulneráveis, principalmente aquelas com pouca experiência em navegar no mundo digital, estão a ser constantemente alvo desses ataques, o que pode resultar em perdas financeiras significativas e consequências devastadoras para suas vidas.
A realidade e o futuro: O que podemos fazer?
A batalha entre a realidade e a manipulação digital está apenas a começar. O futuro desafia-nos a encontrar maneiras de distinguir o real do falso, a proteger nossa privacidade e a garantir que a tecnologia não seja usada para prejudicar os mais vulneráveis.
Para isso, é necessário adotar medidas de prevenção, tais como:
Educação digital: Ensinar a população, especialmente os mais jovens e os menos experientes, a identificar fontes confiáveis de informação e a reconhecer sinais de fraude.
Verificação de conteúdo: Usar ferramentas de verificação de factos e autenticação de identidade para garantir a veracidade de vídeos, imagens e áudios.
Legislação e regulação: Desenvolver políticas públicas que regulem o uso de deepfakes e a manipulação de informações nas redes sociais, responsabilizando as plataformas e os criadores de conteúdo.
Em última análise, é preciso que cada um de nós se torne mais consciente das armadilhas digitais e da facilidade com que a tecnologia pode ser usada para distorcer a realidade. A confiança será a chave para navegar nesse novo mundo, e todos devemos fazer nossa parte para preservá-la.
A experiência pessoal pode ser preciosa. Mas como evitar as fraudes?
Claramente, mais de 80% a 90% das pessoas com contas nas redes sociais, e mesmo as que só têm um email de contacto, foram vítima de tentativa de fraude.
E nem vale a pena pensar em criar uma nova conta ou mudar de número (porque recomeçar do zero, não vai solucionar, e perder-se-á o contacto com alguém), ou então o caminho passa por sair de vez do mundo digital (que também não é solução!). Mas mesmo essa última opção não evitará chamadas ou SMS fraudulentas ou anónimas. Um mero uso de WhatsApp apenas para dialogar com familiares, amigos e conhecidos, não impede que nos tornemos vítimas de alvo de um contacto menos desejável. E apesar de existirem ferramentas para denúncia e bloqueio, hoje existem métodos para obter um novo número ou usar um novo número, em particular quando se trata de uma tentativa em bando, de uma teia que não conhecemos.
Eu próprio tive já várias situações de tentativa de burla. Mas o que me fez mais acreditar nas redes sociais, e não perder o contacto com o mundo virtual, é que realmente já abordei ou fui abordado por figuras públicas que eram bem reais!
Também sabemos que nem todos os convites para investimento são burla, apesar das inúmeras vítimas e alertas das comunidades de cyber-segurança, que se tornaram imprescindíveis para esclarecer os perigos que rondam na internet.
É importante, por isso, criar mecanismos para distinguir o real do falso, o fidedigno do duvidoso, para não sermos enganados. E, tal como referido anteriormente, criar uma cultura de educação digital, constante e permanente, sendo na escola, universidade, ou mesmo em espaços culturais. Desenvolver campanhas e filmes que possibilitem o debate entre as várias comunidades, para que todos nós possamos viver num mundo virtual mais salutar, para que a opção mais segura não seja somente desertar, deixar de contactar ou pôr os contactos de parte.
Conclusão e reflexões finais:
Num mundo cada vez mais digital, a linha entre o real e o falso torna-se mais difícil de distinguir, e os riscos de fraudes e manipulação aumentam consideravelmente. O uso indevido de informações pessoais e as tentativas de golpes, que visam explorar as vulnerabilidades humanas, exigem uma reflexão profunda sobre como podemos proteger nossa privacidade e garantir a nossa segurança online. No entanto, como menciono, a solução não passa apenas por sair do mundo digital, mas por educar-nos e desenvolver ferramentas eficazes para identificar o que é verdadeiro e o que é uma ilusão manipulada.
A experiência pessoal, embora preciosa, não deve ser a única forma de aprendizagem; todos devemos estar conscientes de que os métodos de fraude evoluem constantemente, e é nossa responsabilidade buscar o conhecimento necessário para lidar com essas ameaças. Por isso, a criação de uma cultura de educação digital, que promova a consciencialização contínua sobre os perigos da rede, torna-se essencial. Se for possível, precisamos utilizar as redes sociais de forma mais segura e responsável, e investir em campanhas que envolvam a sociedade como um todo. O objetivo deve ser criar um ambiente virtual saudável, onde o acesso à informação e à comunicação seja seguro, e onde as pessoas não precisem abandonar o mundo digital para se proteger, mas sim, aprender a navegar nele com discernimento e cautela.
Em última análise, vivemos numa era em que a ligação com o mundo digital é indispensável. A chave para a segurança no ambiente online está na educação, na consciencialização e na habilidade de identificar o verdadeiro do falso. Apenas com uma abordagem coletiva e constante, seremos capazes de viver num mundo virtual mais seguro, sem perder as vantagens que ele oferece.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.