Um ano e oito meses após a apresentação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica, na voragem monotemática (e muito enjoativa!) que domina o ciclo noticioso nacional, o tema dos abusos sexuais quase que desapareceu. Não espanta, na medida em que, com honrosas exceções, os assuntos “religiosos” acabam quase sempre remetidos para um nicho jornalístico (o que, aliás, para sermos rigorosos, não tem grande correspondência com a realidade sociológica do País).
Os analistas mais bem informados consideram que será sobretudo nos efeitos do Sínodo dos Bispos – do qual, desde a semana passada e até ao fim de outubro, está a decorrer a segunda sessão – que o Papa Francisco joga o seu legado. Independentemente do que vier a mudar de substancial no Vaticano, para a História também ficará a sua absoluta intransigência face aos abusos sexuais, a “tolerância zero” e a maneira como – nas viagens que tem conseguido realizar, apesar da fragilidade física – pôs o assunto no topo da agenda mediática. A Francisco, não se poderá assacar a responsabilidade de ter varrido os abusos sexuais para debaixo do tapete das vergonhas do passado. Foi sempre claro e direto, não hesitou no caminho do esclarecimento da verdade, mesmo quando esta punha em causa aquilo que muitos consideram ser os alicerces fundacionais e a autoridade moral da instituição.