As palavras cantadas por Sérgio Godinho voltaram a fazer-se ouvir, repetidamente, este ano, na celebração das cinco décadas do 25 de Abril. E, na minha cabeça, têm ecoado nos últimos dias, enquanto se vai aproximando o início de mais um ano letivo que, sem surpresas, tem sempre caos, muitos números e ainda mais pânico à mistura. Primeiro ponto: já sabíamos que ia haver falta de professores para o início do ano. O cenário repete-se há demasiado tempo, e a falta de respostas estruturais não costuma ser solução para problemas que teimam em se agravar. Tentar fazer parecer que é de agora ou que o cenário está pior do que noutros anos é intelectualmente desonesto. Segundo ponto: não se pode pedir a um Governo que tomou posse há seis meses que resolva o desinvestimento que, nas últimas décadas, foi feito na Educação, por sucessivos executivos. E tentar encontrar culpados nesta altura não ajuda ninguém, bem pelo contrário.
Fernando Alexandre não tem experiência política, mas é um homem da educação. Pelo seu percurso, podemos aferir que não só tem noção da importância desta no contexto de uma sociedade desenvolvida, como tem estado a tentar resolver – se é da melhor forma ou não, não sei. Mas, pelo menos, está a fazer algo. Na semana passada, o movimento Missão Escola Pública dava conta de que faltariam mais de 1 700 professores nas escolas públicas nacionais – a FENPROF falava de 800, uns dias antes. As contas do movimento foram feitas, segundo os responsáveis, tendo por base os horários que estão a integrar o concurso de contratação de escola, após não terem sido atribuídos na primeira Reserva de Recrutamento. O distrito de Lisboa é onde a situação é mais complicada: faltavam 697 professores, na altura. Seguem-se Setúbal, Faro e Beja. Em falta estão especialmente professores de Informática, Português e Matemática. Já esta semana, o ministro da Educação anunciou que o apoio a professores deslocados colocados em escolas onde faltam docentes pode ir até aos €450 – a proposta inicial era de, no máximo, €300. Assim que a criação deste apoio foi anunciada, no final de agosto, muitas vozes se levantaram: porque havia professores injustiçados, porque não era suficiente, porque iria haver professores contra professores…