O que é um livro? A resposta a esta pergunta pode variar conforme a idade do leitor. Para as crianças em fase pré-alfabetização, o livro é uma porta para a imaginação e para o mundo da fantasia. É a introdução a um universo paralelo, onde as leis da física decididamente não se aplicam e onde o pensamento crítico começa a nascer. À medida que crescemos, o livro transforma-se. Passa a incluir mais factos, mais regras, mais explicações sobre o mundo real. Fala-nos do passado longínquo e do futuro. Define ideologias. Dá nomes a heróis e a vilões. Ensina-nos, diverte-nos e faz-nos pensar.
Dependendo da faixa etária do leitor, o livro pode ser um portal mágico para um mundo fantástico ou para a mais pessoal das realidades. Nesta jornada que caracteriza o relacionamento de um indivíduo com o livro e com o saber nele contido, a escola desempenha um papel muito importante. Se uma sociedade de leitores é uma sociedade mais informada e mais preparada para construir um futuro melhor, a formação desses leitores, desde cedo,é fundamental.
Mas como é que a escola pode ajudar a criar leitores mais ávidos? Não há uma receita única, mas há práticas que certamente ajudam, e que devem ser tidas em conta não só pelas escolas, como também pelos pais interessados em garantir uma educação e um futuro melhor para os seus filhos.
Para as crianças mais novas, a escola deve introduzi-las ao mundo dos livros através de diversas atividades, tais como: círculos de histórias em que o professor lê e, de certa forma, encena diferentes livros, com o objetivo de capturar a atenção das crianças e transportá-las para o fascinante mundo das letras; oficinas de histórias em que os alunos, alfabetizados ou não, criam os seus próprios livros, usando palavras ou desenhos, afinal, o livro é uma via de dois sentidos: formar leitores também inclui formar escritores e criadores. Outra das possibilidades pode ser organizar encontros entre os pequenos leitores com os autores dos seus livros preferidos em feiras do livro, por exemplo, pois a proximidade com escritores ajuda, e muito, na inserção do indivíduo no universo da literatura.
A partir do momento em que as crianças vão crescendo, o foco da escola deve mudar. É necessário dar espaço para um entendimento mais individual e menos coletivo do livro. Entram em cena ações como: visitas a bibliotecas e feiras do livro para que os alunos possam explorar livremente e se conectem com os temas que lhes suscitam mais interesse; projetos individuais ou em pequenos grupos sobre livros específicos que reflitam temas, momentos ou factos que estejam a ser discutidos em sala de aula; e a criação de clubes de leitura onde os alunos possam escolher os livros que querem ler e partilhar as suas opiniões com os colegas.
Finalmente, há que considerar que um bom leitor é também um bom contador de histórias, alguém com repertório suficiente para conseguir criar os seus próprios argumentos, defender as suas ideias e inspirar outros. Assim sendo, nos últimos anos escolares, o foco não deve ser apenas a leitura, mas também a escrita. Tal pode ser feito através da criação de fanfics, ou seja, incentivar os alunos a criar histórias baseadas nos seus personagens preferidos; clube de debate e argumentação, onde os alunos possam desenvolver e defender as suas ideias; e através de projetos de redação em que os argumentos dos estudantes utilizam referências de livros para validar as suas próprias teses.
A jornada de um leitor nasce com a introdução à fantasia, cresce como forma de entender a própria individualidade e amadurece quando a pessoa se torna capaz de criar e de contar as suas próprias histórias. Não é um caminho fácil, mas, com o apoio da escola e da família, é possível formar bons leitores: cidadãos do mundo muito mais preparados para enfrentar as complexidades do mundo em que vivemos.
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