Aquilo que nos diferencia enquanto humanos de todos os outros seres vivos com os quais partilhamos o planeta é a nossa capacidade de contar histórias. Quando contamos as nossas experiências, quando despejamos sobre terceiros a nossa imaginação, quando damos as nossas interpretações pessoais de passados longínquos e as catapultamos para futuros ainda mais longínquos, desafiamos – e domamos – a lei mais rígida do universo: o tempo.
A nossa capacidade de partilhar histórias torna-nos independentes das nossas comunidades mais próximas e dos nossos próprios – e por vezes falhados – instintos. Conseguimos tomar decisões, afinal, com base não apenas no que os nossos pais nos ensinaram, mas também com base nas experiências de antepassados, de personagens fictícias, de conhecimentos científicos e filosóficos que nos foram inseridos na mente através do elemento mais sagrado concebido pela humanidade: o livro.
É o livro, afinal, que consegue imortalizar conhecimentos, imaginações, visões, experiências. Mas o livro tem, naturalmente, dois lados: o de quem lê e o de quem escreve. E até há muito pouco tempo, escrever e, principalmente publicar, era uma tarefa restrita, de difícil acesso e, portanto, altamente fechada à sociedade. Para ter um livro publicado, o escritor precisava de convencer, seja com argumentos (que, cada vez mais, caíam em ouvidos moucos) ou com dinheiro (exigido em quantias cada vez maiores por bolsos vazios), um punhado de editoras que, com domínio sobre o mercado e os seus canais de distribuição, efetivamente decidiam que livros estariam disponíveis ao público.
Esse tempo mudou. E ainda bem. Hoje, o autor não necessita de implorar pela publicação, uma vez que pode autopublicar-se diretamente, contando com vantagens oferecidas pela tecnologia moderna que antes não estavam ao seu alcance. É o caso da gratuidade, já que autopublicar-se, hoje, não custa absolutamente nada ao autor, que, através de plataformas tecnológicas, pode inclusive estabelecer quanto deseja ganhar por venda. Existe, também, a possibilidade de ser multiformato, afinal, se apenas 21% dos leitores preferem ler em formato eletrónico, de acordo com estudo feito pela Stora Enso, não faz sentido para os autores autopublicarem-se apenas como ebook.
Com a tecnologia de impressão on demand, é possível disponibilizar o seu livro à venda de maneira a que seja produzido um a um, mediante cada venda ocorrida, eliminando, portanto, a necessidade de arcar com os custos de tiragens mínimas. Outra das vantagens prende-se com a distribuição, tendo em conta que, hoje em dia, as plataformas que permitem a autopublicação gratuita já estão integradas em milhares de canais de venda por todo o mundo. Um livro publicado a partir de Portugal, por exemplo, pode ser vendido, em formato impresso ou digital, no Brasil, no México, na China, na Índia ou em qualquer outro país.
A transparência é outra das vantagens. Como os modelos de autopublicação, principalmente os que se baseiam em impressão on demand, não trabalham com consignação de exemplares, o autor é informado de cada venda, conseguindo acompanhar os seus resultados em tempo real. Por último, não podemos esquecer a inteligência artificial, seja para apoiar na criação da capa do livro ou para contribuir para a estratégia de divulgação, a tecnologia está ao serviço de todos os autores, permitindo que o sucesso esteja ao alcance.
Nunca, em nenhum outro momento da História, a Humanidade teve à sua disposição ferramentas que facilitam tanto a sua capacidade de partilhar histórias. Ferramentas que, ao juntarem sofisticação, distribuição, gratuidade e transparência, permitem que todos possam imortalizar as suas visões do mundo.
Quem é que ganha com isso? Escritores, claro, que passam a ter à sua disposição um mercado aberto e absolutamente democrático. Mas também nós, leitores, que passamos a poder contar com uma diversidade de conhecimento absolutamente inédita e, certamente, capaz de nos levar, enquanto sociedade, a patamares muito superiores aos que nos encontramos hoje.
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