O Governo tomou posse há menos de 20 dias e aquilo que deveria ser “estado de graça” começa a ser “estado desgastado”, tal é a confusão e amadorismo gerado pela forma como o Governo está a comunicar com a opinião pública, leia-se eleitor.
Sabemos que um governo e respetivos governantes são por inerência do cargo alvo de críticas durante a respetiva legislatura. Foi assim no passado, é assim no presente, será assim no futuro. É a Democracia a funcionar. No entanto, há nuances que permitem afirmar que enquanto os governos socialistas comunicam magistralmente o que fazem, embora na maioria das vezes não fazendo absolutamente nada, os governos social-democratas ou de coligação PSD/CDS-PP não sabem simplesmente comunicar. É como se no processo de recrutamento os skills relativos à comunicação fossem apagados do perfil. Isto, poderia ser apenas um pormenor, mas não é. É algo grave: os governos de direita têm um problema com a comunicação.
E é um problema que já vem de trás. Quem não se lembra do “Ir para além da Troika” proferido por Pedro Passos Coelho? Quem não se lembra do “irrevogável” de Paulo Portas ou mais recentemente do choque fiscal que afinal não passa de uns ajustes?
Comunicar em política deve ser entendido quase como uma ciência, que não sendo exata pode significar ter boa ou má imagem perante o eleitor, aquele que no final do dia dá ou retira a sua confiança.
Este Governo entrou em funções muito recentemente e o que se tem visto é que cada ministro parece querer marcar o seu tempo dando uma entrevista. Esta é uma estratégia que pode ser suicida. Não pela comunicação que é feita, mas pela forma como fazermos essa comunicação.
Não defendo uma central de comunicação. Nada disso. No entanto, o primeiro-ministro deve ter ao seu lado alguém que saiba comunicar em política, que tenha os tais skills. E, comunicar em política pode passar pelo simples ato de gerir a informação, de fazer passar a mensagem com verdade, mostrando factos, sem qualquer margem para o burburinho, para o diz que disse, para o desmentido. Gerir a informação significa isso mesmo: marcar a agenda e não andar a reboque de outros (leia-se oposição). Além de antecipar cenários, antecipar problemas e atacá-los de imediato, de preferência com factos.
A Aliança Democrática já teve um elefante na sala e por uma questão de comunicação foram muitos os eleitores que, querendo dar-lhe o seu voto, acabaram a colocar a cruz no ADN.
É importante que se aprenda com os erros do passado e se faça algo. É que se está assim nos primeiros 30 dias, imagine-se como serão os futuros confrontos da Assembleia da República. Por mim, não quero ver o Primeiro-ministro a falar de uns temas, os ministros de outros e os Grupo Parlamentar a falar por falar.
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