Época de Natal é também tempo de lista de livros. Desta vez, trago-vos quatro propostas, arrumadas em duas geografias ‒ Ásia e EUA ‒, mas sobretudo em duas temáticas – as grandes estratégias da China e do Japão, e as perigosas crises internas das democracias ocidentais. Que eu saiba, nenhum está traduzido em português, mas se este artigo servir para motivar alguma editora, já cumpriu parte do seu propósito.
Michael J. Green argumenta em Line of Advantage que Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão de 2006 a 2007 e de 2012 a 2020, reorientou a estratégia de Tóquio de uma maneira que persistirá, apesar do seu trágico assassínio em julho de 2022. Proativo em vez de reativo, desenhou a ideia de um “Indo-Pacífico livre e aberto”, influenciando o próprio pensamento norte-americano, na sua aposta regional. Fortaleceu ainda a cooperação militar entre os dois aliados, consolidou a quase-aliança entre Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos da América (Quad), e ressuscitou o pacto comercial transpacífico abandonado por Washington durante o mandato de Donald Trump. Iniciativas que garantiriam o acesso do Japão aos mares circundantes com base no Estado de direito e no livre trânsito comercial. Abe bateu-se pelo aumento do orçamento de Defesa e implementou a primeira proposta de segurança nacional na história do pós-guerra japonês. Apesar do seu fracasso em superar divergências históricas com a Coreia do Sul, o Japão de Abe soube desenhar uma grande estratégia articulada no quadro de alianças democráticas, com instrumentos e objetivos definidos, acomodando-a à ideia central de evitar a existência de uma potência hegemónica revisionista no Indo-Pacífico.