O povo diz: “o dinheiro não traz felicidade, mas ajuda…”. E sabemos como o povo é sabedor!
Na ciência económica, foi preciso chegarmos ao final do séc. XX para sermos capazes de responder a essa questão fundamental. Afinal, o dinheiro traz ou não felicidade?
Quem leia um manual de introdução à economia vai notar que quase nunca se fala em felicidade. Porém, fala-se muito de utilidade, e do como os agentes económicos a maximizam com as suas escolhas livres nos mercados. E um corolário lógico brota: quanto mais dinheiro uma pessoa tiver, mais escolhas pode fazer e mais feliz vai ser. O mesmo se aplica às nações: aquelas que têm maior rendimento (que têm um PIB maior) hão-de gerar mais bem-estar para as suas populações.
A ser assim, como contam os manuais de economia e pregam a maior parte dos economistas, o povo estaria errado: o dinheiro traria mesmo a felicidade!
E que bom seria que assim fosse: quem quisesse ser feliz, só tinha que encontrar maneira de ser rico. E a nação que quisesse gerar a maior felicidade possível no seu povo, bastava apostar no aumento forte e continuado do seu PIB.
Acontece que não é assim. Na verdade, o povo é quem tem razão.
Os estudos científicos que surgiram no final do séc. XX, e que continuam, hoje, a acumular evidência empírica para responder à questão “riqueza vs felicidade”, têm chegado a uma conclusão robusta: embora as pessoas mais ricas (e os países mais ricos) tendam a ser mais felizes, não o são de forma proporcional às diferenças na riqueza. E mais, ao longo do tempo, muitas nações ricas, que continuam a crescer economicamente, não estão a conseguir aumentar os níveis médios de felicidade das suas populações.
E isto é assim porque a felicidade não depende só dos bens e serviços que consumimos. Depende de muitas coisas que a riqueza material não consegue comprar. E mais, mesmo para termos os bens e serviços que gostamos de consumir, temos que os produzir. Acontece que a forma como os produzimos, a forma como trabalhamos, é, também, vital para o nosso bem-estar.
A sabedoria popular, muitas vezes, encerra conhecimento de experiência feito, acumulado ao longo dos tempos. Neste caso, está certa. É tempo dos manuais de economia (e, já agora, os políticos) se actualizarem com esta sabedoria.
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