A exposição começa com o invejável sorriso de Edmilson. Tem 7 anos e anda na 1ª classe, numa escola da cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado. A sua disciplina favorita é o Português e, quando for grande, quer ser polícia. Maria Clara, a mãe que o “rebocou” (expressão da própria, duplamente invejável), conta que ele gosta tanto de ir à escola “que até ao domingo se prepara para ir”. Alguns metros adiante, a mostra termina com Gérsia, 15 anos, uma menina que frequenta o 9º ano. Gosta de jogar à bola e de Geografia porque “fala de muitas coisas da Terra”.
Falamos de Futuros Presidentes, o projeto desenvolvido em Moçambique pela Organização Não Governamental para o Desenvolvimento Helpo cujo diário de viagem a VISÃO acompanhou em fevereiro último. Depois dos dias no terreno, a segunda fase do projeto é agora concretizada: as imagens do fotógrafo Luís Mileu e as palavras do escritor Ricardo Henriques estarão – a partir desta quarta, 11, e até à próxima segunda, 16 – expostas nos corredores da Assembleia da República (AR), em Lisboa. Os Passos Perdidos revelam 20 das muitas histórias que os repórteres recolheram durante os 12 dias em que estiveram no Norte de Moçambique. Luís e Ricardo entrevistaram mais de 60 crianças na esperança que assim elas próprias se sintam “presidenciáveis”, incentivando-as a ter um futuro diferente do dos seus pais. A fintar o destino, em suma.
Na inauguração da exposição na AR, estiveram presentes, além de Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, os antigos Presidentes da República Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva. As primeiras-damas Manuela Ramalho Eanes e Maria Cavaco Silva também assistiram bem como os líderes dos grupos parlamentares. Ferro Rodrigues chamou a atenção para o facto de se tratarem de “exemplos de esperança”. Na ocasião, Joana Clemente, da Helpo, destacou ainda a “particularidade de cada criança e de cada história”, sublinhando que “a linguagem deste projeto é a linguagem do relógio com os ponteiros parados”.
À VISÃO, Luís Mileu e Ricardo Henriques explicam que o objetivo do Futuros Presidentes ficará concluído se, após a exposição, for possível à Helpo obter mais apoios, quer através do apadrinhamento de crianças, quer através da consignação de 0,5% do IRS. “O ideal seria que o projeto ajudasse a amplificar um bocadinho mais a ação da Helpo”, diz Luís Mileu. Ricardo Henriques acrescenta: “Existe uma certa desconfiança em relação às ONGs, mas isso também é uma forma de as pessoas justificarem o facto de não ajudarem as organizações. O trabalho da maior parte das ONGs é muito bom. Basta estar no terreno para o perceber”. Durante as duas semanas em que os repórteres estiveram em Moçambique, e em que os seus diários puderam ser seguidos no site da VISÃO, foram apadrinhadas mais 45 crianças moçambicanas.
Depois, permanecerão ainda outro tipo de objetivos do Futuros Presidentes. Ricardo Henriques conta que a maioria das crianças entrevistadas respondia que queria ser professor. E explica: “Costumamos dizer que a imaginação de uma criança é prodigiosa, mas isso nem sempre acontece. Aqueles miúdos veem muito pouco à frente, são pouco ambiciosos. É que uma criança precisa de ter referências para conseguir ver mais longe.” É sobretudo por isso que, escrevendo sobre Gérsia, a adolescente que quer ser professora, Ricardo deseja que os alunos da professora Gérsia sonhem em vir a ser astronautas. Perguntamos nós: e porque não?