Acabou o debate, fica a faltar quase um mês para as eleições. Quer isto dizer que os efeitos deste confronto dificilmente seriam decisivos. Definir esta noite o vencedor apenas seria possível se Passos Coelho ou António Costa tivesse levado o antagonista ao tapete. O que não aconteceu.
Assim sendo, pouco importará quem ganhou por pontos. O curioso é que a generalidade das previsões dava o favoritismo a Passos Coelho, considerado mais eficaz nos confrontos. E isso também não aconteceu.
Para não fugir ao que hoje mais espera quem lê estes apontamentos, aqui fica a minha sensação: Costa esteve melhor. Mas ganhou? Atacou mais. Se marcou o suficiente para passar a eliminatória, é outra conversa. Dramático para ele seria não ter ganho.
É verdade que Costa estava numa posição mais fácil, pois ser oposição a um Governo que administra um país em tempo de crise é meio caminho andado para sair por cima neste tipo de confrontos. Mas também é verdade que o ambiente e os resultados das sondagens dos últimos dias (mesmo sem contar com o caso Sócrates) não eram favoráveis a Costa.
Afinal que armas foram usadas? Passos insistiu na pesada herança, Costa respondeu com o incumprimento de promessas eleitorais. Mas o joker socialista foi o reavivar das memórias sobre o motivo de orgulho então propalado pelo Governo de que tinha ido além da troika.
Passos tentou colar Costa à governação de Sócrates – a sua grande cartada – e reavivou o passado despesista do PS. Depois afirmou e reafirmou que a receita do PS do futuro é igual à do PS de há quatro anos.
Muita água vai passar sob as pontes, muito jantar de campanha vai decorrer até dia 4. Hoje percebeu-se porque Passos não quer debates e recusa entrevistas. Ele não tem mais para dizer do que falar do que fez, de reafirmar a sua ação, de manter a fé no seu trabalho. Afinal, o seu projeto está em Bruxelas, no Programa de Estabilidade e Crescimento. Esta consistência é o seu principal trunfo, foi ela que lhe permitiu aproximar-se da votação prevista para o PS (ou mesmo ultrapassar, segundo a última sondagem).
Fica uma convicção forte: Passos e Costa dificilmente estarão num mesmo Governo. Um aposta na contenção que nos estará a pôr no bom caminho; o outro no crescimento pelo consumo. Como dificilmente haverá maioria absoluta, dia 5 de outubro (ou talvez mesmo logo a noite de 4 de outubro) vai ser o primeiro dia da polémica que se segue. O grande debate vai ser esse e ainda vai acontecer.