Na cimeira europeia de hoje, dia 12 de fevereiro, Alexis Tsipras e Angela Merkel estarão sentados, pela primeira vez, à volta da mesma mesa. Não vai ser fácil. Para além do choque de personalidades, que são bem diferentes, e das opções políticas divergentes, haverá certamente um grau elevado de tensão emocional. Ora, no topo da pirâmide política, a empatia – neste caso, será de falar de antipatia – entre os líderes tem muito peso. Creio, no entanto, que a preocupação fundamental de ambos vai estar focada no que entendem ser a defesa dos interesses dos respetivos cidadãos. Mas se cada um deve lutar pelos seus, não pode deixar de ter, ao mesmo tempo, a lucidez necessária para identificar os pontos comuns, os destinos partilhados. Sobretudo agora, num momento de crise profunda e de inquietação geral em relação ao futuro. Nesta cimeira temos em cima da mesa, mais do que nunca, um desafio existencial: manter a coesão da UE. É isso que espero, embora com uma dose de pessimismo, que esteja na linha de mira de Tsipras e de Merkel. E também dos outros chefes de Estado e de governo. Esse é o discernimento que permite identificar quem tem craveira de estadista.
Sejamos claros, neste momento de incertezas e de riscos. Diga-se que quem pensa apenas em termos nacionais não cabe no projeto comum. Os nacionalismos a todo o custo foram a causa de muitas calamidades no nosso continente. Hoje são de novo um perigo maior. Fala-se amiúde nos valores europeus, tantas vezes de modo irrefletido, sem que nunca se faça referência ao valor da harmonia, que se deve manifestar através da cooperação entre os distintos países que constituem o mosaico. O crescimento dos movimentos populistas, cada vez mais evidente, é uma ameaça direta contra esse valor. Sobretudo o populismo de extrema-direita, pela tendência que tem para a xenofobia e o racismo. Uma grande parte do combate político passa agora pela denúncia dessas ideias e pelo isolamento de quem as apoia, no interior da Europa, e de quem as instiga, de fora, por ver vantagens no esfarelar da união.
Coesão, sim, e acima de tudo. Porém, a coesão tem um preço. Cada Estado-?-membro deve assumir o seu quinhão de responsabilidade. Também aqui convém ser claro. A responsabilidade primeira, quando um país está em apuros, pertence aos seus cidadãos e às suas instituições nacionais. Esta é a única posição que tem pés para andar. Como diz o ditado, Deus ajuda quem a si se procura ajudar. Culpar os vizinhos e esperar que a salvação venha do exterior reflete fraqueza e demagogia. Quem tem um problema faz um plano, gostava de repetir o meu jardineiro no Zimbabué, um homem simples mas cheio de bom senso. E mostra que o quer executar, respondia-lhe eu.
Do outro lado da mesa, o preço inclui saber ultrapassar os preconceitos. Sei que muita gente politicamente importante no Centro e no Norte da nossa Europa olha para os gregos como gente do kebab, do Médio Oriente, uma espécie de antecâmara dos turcos e dos libaneses, com tudo o que isso significa nas suas mentes em termos de desconsideração. E que acha que chegou o momento de limpar a casa e deixar os “levantinos” ir à vida. Não tenhamos ilusões nem papas na língua. Esta maneira de pensar é mais generalizada do que julgamos, num continente em boa parte conservador e enviesado. Tem que ser combatida. ?À mesa da Europa, o menu deve continuar a ser variado e a poder combinar diferentes sabores.