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Um dos temas que António Pires de Lima escolheu para a sua intervenção no último almoço-debate, promovido pelo Fórum de Administradores de Empresas, foi o das exportações, aproveitando para elogiar o excelente desempenho de empresas e gestores que atuam em Portugal. O significativo crescimento das vendas no exterior de bens produzidos no País, em praticamente todos os setores de atividade, permitiu-nos atingir saldos históricos, conforme destacou o ministro da Economia, referindo que não é justo colocar esse equilíbrio das contas apenas a crédito da quebra das importações, esta diretamente imputável à crise, ou somente ao incremento das vendas de combustível no exterior.
Não faz, de facto, qualquer sentido ignorar o notável incremento das exportações nacionais, uma das poucas coisas boas que têm acontecido nestes últimos anos de crise. Mas a verdade é que não devemos ficar focados apenas neste lado da equação. Devíamos ter também a ambição de reduzir as importações, não por força de uma crise que nos impede de comprar, mas pela capacidade de começarmos a substituir importações pela compra de produtos e serviços que faz sentido produzir em Portugal, com qualidade e competitividade. Aqui há também um desafio a vencer: as empresas portuguesas têm de conquistar o mercado nacional. Até porque esse passo será, para muitas atividades, fundamental para enfrentarem com outro fôlego o objetivo da internacionalização.
Comprar fora significa sempre “perder” dinheiro a favor de outra economia, contribuir para o enriquecimento de outras empresas e de outras sociedades em detrimento das nossas. Se isto não significa, por si só, que importar é sempre uma má escolha – em muitos casos será mesmo a melhor opção ou até uma inevitabilidade -, a verdade é que, em muitos outros, comprar ao exterior é apenas e só um desperdício, uma realidade que deve ser, no mínimo, reduzida ao máximo.
Historicamente, Portugal importa muito porque a produção nacional será, em termos genéricos, menos competitiva que outras. Este é um facto que pode ter a sua explicação na fragilidade de preço, de tecnologia, de design, de distribuição, de assistência pós-venda, e na rigidez da capacidade de resposta às oscilações do mercado… Qualquer um destes fatores pode explicar a pouca força da produção nacional e a nossa tradicional apetência por produtos estrangeiros.
Mas esta atração do consumidor nacional pelas marcas estrangeiras resultará também, a somar a todos aqueles fatores – e se calhar mesmo derivada deles -, de uma forte componente cultural. Os portugueses compram estrangeiro porque o que é estrangeiro é, entre nós, “por definição”, melhor do que o “made in Portugal”.
A crise fez descer a conta das importações. Mas teve também, seguramente, o efeito positivo de sensibilizar os consumidores para a necessidade de ajudarem a produção nacional. O País encheu-se de campanhas a promover o “made in Portugal” – a própria VISÃO também entrou neste oportuno esforço coletivo. Mas esta mobilização geral da sociedade civil, apesar de indispensável, não é suficiente. Até porque a crise, um destes dias – esperamos todos -, irá acabar, abrindo novamente a janela do consumo… e do regresso das importações.
Vivemos muitos anos debaixo de um conceito de nacionalismo fechado e protecionista que, se já não fazia qualquer sentido na altura, hoje ainda faz menos. E vivemos, depois, anos de dirigismo estatal da economia que, se já eram manifestamente absurdos na altura, hoje seriam ainda mais desajustados da realidade global. Mas estes dois factos não impedem que a comunidade nacional, Estado incluído, faça um esforço para conquistar o mercado interno. Não por razões de ideologia bacoca ou de protecionismo fora de prazo, mas por pura racionalidade económica, pelas mesmíssimas razões que colocam as exportações no topo das prioridades nacionais.
Portugal precisa de tornar a sua economia mais robusta. E isso só acontecerá no dia em que o consumidor português for menos dependente do mercado externo e da etiqueta estrangeira. A começar na energia e a acabar no calçado ou no vestuário, dois dos nossos mais fortes setores tradicionais. Enquanto isto não for uma prioridade, estaremos condenados a só ter contas equilibradas com o exterior quando sofrermos ciclos de crise económica.
Precisamos urgentemente de inventar uma nova diplomacia económica, desta vez virada para dentro.