Os primeiros resultados da noite confirmaram a grande tendência que se foi desenhando ao longo dos últimos tempos, à medida que se sucediam as sondagens: o cansaço do eleitorado com as “jogadas” dos partidos e a consequente vitória dos independentes.
Rui Moreira e Filipe Menezes são as duas caras de uma mesma moeda exemplar. Moreira conseguiu vencer, e Menezes, candidato oficial do PSD, perder, num inesperado terceiro lugar, num Porto que teve duas candidaturas da área da maioria. O que diz também muito sobre o fraquíssimo desempenho do candidato socialista, Manuel Pizarro, que não conseguiu tirar partido da cisão laranja. O resultado foi deixar o CDS, que apoiou Moreira, a cantar vitória na segunda maior cidade do País.
Mas a grande lição que se tira do Porto não é o “deve e haver” entre partidos. É o ajuste de contas entre os partidos e as populações.
É por isso que Pedro Pinto, candidato do PSD em Sintra, conseguiu também a proeza de perder para outro social-democrata, o independente Marco Almeida, nº 2 de Seara na histórica vila*. Assim como o desconhecido independente Paulo Vista, nº 2 de Isaltino Morais, bateu o mediático, mas “paraquedista”, Moita Flores num concelho que tem uma população claramente social-democrata. E o independente Guilherme Pinto, dissidente socialista, bateu o candidato oficial do PS em Matosinhos.
António Costa, com a sua vitória indiscutível em Lisboa, é um bom exemplo do reverso desta história. Quando os partidos escolhem quem devem e quem as populações vêem como dirigentes credíveis, ganham sem margem para discussões. Mas o seu resultado esmagador não pode ser dissociado do facto de ter tido Seara como adversário, outro candidato “importado” do concelho do lado, e que aceitou o “joguinho”, “pequenino”, de que não precisava e não lhe ficou bem, de se candidatar a um quarta mandato como presidente de câmara, à semelhança, aliás, do que fez Menezes.
Apesar de registar várias derrotas significativas, entre as quais Braga, Évora e Beja, os socialistas vencem claramente estas eleições, quer em número de votos quer em número de câmaras, conquistando assim a presidência da Associação Nacional de Municípios. Assim como o CDS e o PCP podem também reclamar claras vitórias face às últimas autárquicas. Quanto ao PSD, perde, praticamente, a toda a linha. E na Madeira sofre mesmo uma pesadíssima derrota, perdendo a maioria das câmaras, incluindo o Funchal, um claro sinal de fim de linha para Alberto João Jardim.
“Não somos contra os partidos, mas os partidos não têm estado bem”, disse Rui Moreira, o grande símbolo desta vitória das listas independentes. São eles, os candidatos independentes, os grandes vencedores destas autárquicas. E com eles vem também o principal facto político a reter: o cansaço dos eleitores quer com as jogadas dos partidos quer com as ambições cegas e despudoradas de alguns barões do poder local.
Aguiar Branco, dirigente social-democrata, recordou, no momento da derrota de Menezes para um independente, que não podemos ser contra os partidos, porque os partidos são fundamentais para a existência da democracia. É verdade. Esperemos que os partidos tenham percebido que também não podem existir sem eleitorado.
*Já depois da feitura deste comentário, e de ter sido dada como certa a vitória do independente Marco Almeida em Sintra, seria Basílio Horta, pelo PS, a conquistar a Câmara, numa vitória muito tangencial assegurada mesmo na reta final da contagem de votos. Fica aqui a correção, mantendo-se o texto com a sua versão original.