Ainda em Portugal, tive de assinar um documento enviado pelo projeto ALMA no qual se liberta a organização de qualquer responsabilidade, em caso de acidente, durante a visita ao observatório.
No primeiro item lê-se: “Fui informada que o projeto ALMA está entre os 3000 e os 5000 metros de altitude e assumo informada e responsavelmente os eventuais efeitos sobre a minha saúde que possam derivar desta circunstância.”
A lista continua em 12 pontos, sempre na mesma linha assustadora.
Quase todas as conversas sobre a inauguração do telescópio acabavam com recomendações relacionadas com a altitude: na véspera da subida é preciso descansar, devem beber-se muitos líquidos, evitar fazer esforços. O corpo não está preparado para uma atmosfera tão rarefeita e as reações podem começar numas simples dores de cabeça, passando pelo delírio ou até o desmaio. É o chamado mal de puna, em kunza, um dialeto local. Por isso, um dos requisitos para poder subir ao ALMA é estar em boa condição física e passar nos ‘testes médicos’, que são feitos por equipas médicas, especializadas no assunto.
Ninguém especificou o tipo de exames que teríamos de fazer, mas uma coisa era certa: quem não passasse, não passava da base. Preparei-me como pude: comecei a correr uma vez por semana, tomei medicamentos para curar definitivamente uma constipação que não me largava, treinei o ‘inspira/expira’ do ioga. Na hora do teste, lá estava eu, pronta a mostrar que, se fosse preciso, até andando eu seria capaz de chegar lá acima.
Na sala de um hotel, transformada em gabinete médico, meia dúzia de pessoas mediam, registavam, entregavam credenciais. Ao meu lado, um homem com uns 50 anos protestava, com o braço ligado a um aparelho de medir a tensão. “Ainda há três meses fui lá acima e não tive problema nenhum”, argumentava. “Não podemos dar-lhe autorização. Tente novamente amanhã”, respondeu-lhe o responsável pela segurança e risco.
Respirei fundo e sentei-me na cadeira. Instalaram-me o aparelho de medir a pressão arterial, no dedo outro para medir a concentração de oxigénio no sangue. Nisto, sou traída pelo meu coração, que dispara. Esforço-me por fazer o inspira/expira bem profundo e acalmar-me. Quem me atende chama o chefe da segurança e risco. Um chileno adorável, mas inflexível. “Tem um pouco de taquicardia.” Concordei. “Precisa de um pisco sour [uma bebida alcoólica, típica do Chile]”, diz-me, bem-disposto, enquanto colava uma etiqueta verde às minhas credenciais.
“Já está. Vemo-nos amanhã.” Ufa, que alívio! Afinal era só isto?!