Todos nós temos sonhos ao longo da vida. Sonhamos em ser pilotos de Fórmula 1, ganharmos o euromilhões, encontrarmos a Scarlet Johanson no supermercado a perguntar-nos que iogurte deve levar, enfim, sejam materiais ou sentimentais, a maioria das vezes não passam disso mesmo, de sonhos.
Depois, de entre eles, há alguns que são possíveis realizar. Sempre pensei que devemos fazer o que podemos para, pelo menos esses, pô-los em prática.
Tenho conseguido realizar alguns dos meus sonhos e penso que isso ajuda a fazer de mim o que considero uma pessoa feliz.
Há anos que tinha o sonho de dar a volta ao mundo de moto. Sem pressas nem compromissos, simplesmente percorrendo o mundo ao ritmo a que me apetecesse ao volante de uma moto.
Quando sonhamos em realizar qualquer coisa nunca temos tudo pronto para o fazer. Talvez por isso a maioria dos sonhos não passe de isso mesmo. Porque as pessoas pensam sempre: “este ano ainda não dá mas para o ano vou conseguir”. Até que os anos passam, com uma rapidez assustadora, e o nosso sonho deixa de ser realizável.
Por isso penso que, quando perseguimos um sonho devemos avançar na sua direção com o mínimo de condições para o realizar porque, se estamos à espera do momento ideal, ele nunca acontece.
Assim, mesmo sem ter todas as condições reunidas para o fazer, achei que era altura de arrancar.
O facto de a Honda Portugal ter concordado em ceder-me uma moto para o fazer foi o passo decisivo. Já não podia voltar atrás. Procurei patrocínios infrutiferamente e acabei por ser salvo pelos fornecedores de material que permitiram que eu não tivesse que comprar capacete, fato, saco de viagem, etc.
Tracei um percurso, falei com algumas embaixadas, vacinei-me contra tétano e febre amarela e fiz-me à estrada.
Almocei com um grupo de amigos na sexta feira, dia 28 de Setembro e parti com a intenção de não andar em auto estradas e evitar também estradas de terra.
Abandonei a auto Estrada em Montemor e só voltei a entrar numa à chegada a Barcelona. Para além desta regra que estabeleci tinha mais duas: evitar andar de noite, tentando mesmo parar pelas cinco, seis da tarde de cada dia e não ultrapassar os 130 Km/h não só por razões de segurança pois estou consciente que vou andar em países onde o transito e as condições das estradas são muito perigosos, mas também por razões económicas: O orçamento é apertado e a “Cross Tourer” consome 5l/100KM a 120 Km/h mas passa rapidamente para 7 se rodamos a 150 Km/h. Por outro lado o consumo de pneus também é muito mais acentuado a altas velocidades para além do magro orçamento não contemplar multas de trânsito.
De entre a tralha que eleva o peso da Honda para bem mais de 300 Kg transporto uma pequena cadeira desdobrável que me permite descansar nas muitas paragens que faço pelo caminho e ler, tranquilamente. Viajo sozinho e na minha primeira paragem, no Kartódromo de Évora, para ver se estava por lá o meu amigo Peter Peters, uma rapariga, sócia do moto clube local, com o seu naturalmente irrequieto filho de três anos a correr de um lado para o outro dizia-me entre duas imperiais: “Ai, sozinho. Que inveja. Quem me dera estar sozinha nem que fosse só por 24 horas”. Nesse dia, em que parti de Lisboa pelas quatro da tarde, só fiz 200 Km e fiquei por Beja.