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Estamos claramente a viver tempos de rutura, em Portugal, na Europa e no mundo. Há uma crise financeira e política profunda que atinge a União Europeia, e não é só o euro, ou a zona euro, que está em risco, é todo o processo político de construção europeia que ameaça cair. E quando cair, se cair, tal será uma espécie de tsunami global, produzirá ondas de choque no mundo inteiro. Esta ameaça de impacto global justifica, aliás, a mais forte esperança de que tudo possa ficar (quase) na mesma.
Os PIIGS multiplicam-se. Depois de Portugal, da Irlanda, da Grécia, da Espanha e da Itália, as agências de rating e os mercados começam a ameaçar a França e, qualquer dia, viram-se para a própria Alemanha. Ao fim e ao cabo, não há general que resista à morte dos seus soldados. Os alemães deviam saber isso melhor que ninguém, apesar de sentirem alguma dificuldade de perceber as razões do seu fraco desempenho económico. Talvez entendam melhor à medida que os seus clientes do Sul, sem poder de compra, forem cancelando as encomendas às suas fábricas de carros, eletrodomésticos, medicamentos ou outros produtos de tecnologia de ponta.
Os Estados Unidos, com uma Rússia débil, insegura e instável, são agora uma espécie de estrela cadente. A liderança global a uma só voz já foi, a aliança com a velha Europa já viu melhores dias e estão agora focados no estreitamento de relações na Ásia-Pacífico, com vista à construção de uma novo bloco de forças comerciais e económicas (e políticas e militares) que enfrente o império emergente chinês. A América Latina oscila entre a esperança brasileira, um dos poucos sinais positivos a nível global dignos de nota, e o devaneio contagioso de Hugo Chávez.
Quanto ao Médio Oriente, está em revolução progressiva, mas não se sabe bem em direção a quê, pelo que os movimentos populares de revolta correm o risco de acabar em conflito regional – até porque há muitos interessados em que tal aconteça, para redirecionar pressões e descontentamentos internos. Os dois principais protagonistas, Israel e Irão, são já velhos conhecidos, mas têm agora um novo e recente pretexto para tornar as coisas mais feias do que já são, o poder nuclear iraniano.
Um pouco mais longe, a China corre sérios riscos de se tornar vítima do seu próprio sucesso, porque, um destes dias, irá implodir, à semelhança de todos os outros países que cresceram alavancados em projetos loucos e preços insustentáveis. Quando esse momento chegar, terá de enfrentar sérias situações de conflitualidade social. A Índia e o Paquistão são outro problema insolúvel de gigantismo, crescimento e pobreza. E África continua a ser cada vez mais África: pobre, desertificada, a morrer à fome e abandonada pelo mundo. As exceções, quase exclusivamente alicerçadas na exploração de recursos naturais, não passam disso mesmo e são gotas de água num imenso mundo de sofrimento.
O mundo não está, de facto, nos seus melhores dias: tudo o que era bom parece estar a chegar ao fim, surpreendentemente depressa. Ainda há bem pouco tempo terminava a Guerra Fria (assim como o último regime de apartheid), a China abria as suas portas ao mundo e, julgávamos nós, tínhamos entrado numa era imparável de crescimento, bem estar social e harmonia global. É claro que sofremos o choque do 11 de Setembro, a invasão do Afeganistão e do Iraque e mais meia dúzia de escaramuças, aqui e ali. Mas o que foi isso comparado com as décadas anteriores, de constante ameaça nuclear, guerras cirúrgicas promovidas pelas superpotências e um mundo dividido em dois?
Tudo está de novo a mudar, em várias frentes que se entrecruzam e mais rapidamente que nunca. Aos interesses que justificam as crises de todos os tempos, soma-se, agora, um problema de modelo de desenvolvimento e de crescimento global que ultrapassou os limites da razoabilidade na “arquitetura” financeira que o suporta e na competição desenfreada que promove, e que também não é sustentável do ponto de vista dos recursos naturais.
O que podemos fazer perante cenários tão preocupantes? Sinceramente, a maior parte de nós, para além de apoiar os dirigentes políticos mundiais, regionais e nacionais que mostrem algum bom senso, pode muito pouco. Mas, ainda assim, nessa nossa pequena margem de atuação, terá de haver espaço e tempo para uma qualquer atitude ou comportamento ao nosso alcance e que pode ajudar a fazer do mundo um melhor lugar. Esta edição, recheada de bons exemplos, é a prova disso mesmo. Faça sol ou faça chuva, como hoje nos nossos dias, uma pessoa pode sempre fazer a diferença: no seu bairro, no seu país ou em qualquer parte do globo. E hoje, talvez mais do que nunca. É tão simples quanto isto.