<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 false false false MicrosoftInternetExplorer4 <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=” /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:””; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:”Times New Roman”; mso-fareast-font-family:”Times New Roman”; mso-ansi-language:PT; mso-fareast-language:PT;} p {mso-margin-top-alt:auto; margin-right:0cm; mso-margin-bottom-alt:auto; margin-left:0cm; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:”Times New Roman”; mso-fareast-font-family:”Times New Roman”;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} “> <#comment comment=”[if gte mso 10]> Quando, no ano 2000, conheci José Saramago, “protestei” contra o seu amigo Gunter Grass, o nome que lhe sucedeu na conquista do prémio Nobel de Literatura. Estava a ler a obra do escritor alemão Uma Longa História e achava-a intragável. Saramago sugeriu: “Se não lê alemão, experimente ler a tradução espanhola. Às vezes, é das traduções…” Falava quem sabia, ele que é o escritor português mais traduzido. Mas se a tradução parece fácil de resolver, os problemas de comunicação ou de interpretação são mais complexos. E o da estupidez é praticamente irresolúvel. Com a mesma imbecilidade com que uma organização de invisuais protestou, nos EUA, contra a exibição do filme baseado no Ensaio Sobre a Cegueira, uma certa direita persiste em menorizar, vituperar e até achincalhar o Nobel português ou, agora, a sua memória. Não por ser mau escritor embora às vezes até isso seja insinuado! mas porque foi comunista. Do mesmo modo, alguns inquisidores continuam a queimá-lo na mesma fogueira em que morreu Baltazar Sete Sóis, no final do Memorial do Convento.
Ora, Saramago nunca escreveu sobre cegos, mas sobre a natureza humana. E o seu Evangelho revela-nos um homem profundamente admirador de Jesus Cristo, para muitos o primeiro “marxista” da História. É verdade que a cruzada antirreligiosa de Saramago roçou, muitas vezes, as raias da desonestidade intelectual, que não está ausente do mesmo Evangelho. Ao denunciar os crimes da religião, nunca relativiza os acontecimentos à luz do seu tempo, nem reflete sobre o papel decisivo do Cristianismo no advento do Humanismo no Ocidente e de todas as ideias políticas ditas libertadoras, incluindo o socialismo. E nunca admite que as ideologias do século XX, uma das quais preconizava, mataram muito mais gente, em muito menos tempo, do que 2 mil anos de religiões. Se calhar, precisamente, porque não tinham um princípio religioso-moral que as travasse. Mas esse tipo de dialética está normalmente ausente do discurso dos Sousa Laras desta vida, que nunca elevam a discussão a uma argumentação racional. A maior parte dos que o criticam nunca leram um livro seu: o homem era um comuna e um ateu furioso e isso bastava.
Ler um livro de Saramago é como comer queijo da serra: qualquer queijo consumido a seguir não sabe a nada. Ora, foi esta genialidade que o tornou célebre mundialmente e lhe granjeou um merecido Nobel, distinção que os seus detratores nunca perdoaram. O funeral “de Estado”, o luto nacional, o avião que recolheu o seu corpo, em Lanzarote, foi o mínimo que podíamos fazer pela sua memória. A ausência do Presidente da República fez de Cavaco Silva um homem afetado pela cegueira branca do mais genial dos livros de Saramago.
Cavaco terá pensado que, depois da promulgação dos casamentos gay, a presença num funeral destes seria a gota de água que lançaria a direita beata numa candidatura rival. Mas o surpreendente ato falhado da sua deserção cede à pequenez, ao despeito e à parolice que caracterizam os inquisidores de Saramago. E este analfabetismo moral nada tem a ver com deficiências de tradução.