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Como definir a última década? Como definir a década do estertor final do guterrismo, da deprimente aventura Barroso/Santana Lopes, da perversa hegemonia socrática? Alguns, inspirados pelo espírito do Natal, gostarão de lembrar que, aqui e ali, existiram uns arremedos reformistas (primeiros meses dos executivos Barroso e Sócrates). Mas receio que seja boa vontade a mais. Apesar da santidade da quadra, só não vê quem não quer: a primeira década do século XXI português, se estatisticamente não marca ainda, em todos os indicadores, um verdadeiro retrocesso económico e social, passará provavelmente à história como a década do apodrecimento definitivo do regime herdado do 25 de Abril.
Por muito graves que sejam, não são a dívida pública, o défice orçamental nem o PIB per capita que, de per si, mais me preocupam. Preocupa-me, isso sim, a falência do modelo económico em que vivemos. Preocupa-me pensar que, na última década, baseámos todo o nosso desenvolvimento numa santíssima trindade formada pelo Estado (e a Europa), a Banca (e o crédito fácil) e as Obras Públicas. E preocupa-me ainda mais registar que a promiscuidade entre os poderes político e económico (que é uma consequência óbvia do modelo de desenvolvimento que escolhemos) ultrapassou novos limites, durante os últimos anos de maioria absoluta socialista.
Preocupa-me pensar que a última década é a década da degradação final do nosso sistema de Justiça. Preocupa-me pensar que os casos Casa Pia, Portucale, Moderna, Operação Furacão, Freeport (e poderia citar muitos mais), nos tiraram qualquer ilusão acerca da capacidade de se fazer justiça em Portugal, sempre que estão envolvidos interesses políticos ou económicos poderosos. E preocupa-me tanto mais quanto tenho para mim bem claro que uma sociedade que deixa de acreditar na justiça perde, a prazo, qualquer viabilidade, enquanto projecto político.
Preocupa-me pensar que a última década condenou à mediocridade mais uma geração de alunos portugueses. Por força das cedências contínuas às pressões corporativas, por força do poder tenebroso de um sistema kafkiano que se alimenta a si mesmo e por força da total ausência de uma cultura de exigência e de excelência.
Preocupa-me ter de admitir que o nosso sistema político-partidário possa ter perdido qualquer hipótese de regeneração. Não é uma questão ideológica nem de simpatia partidária. É a constatação de um facto simples: o PS e o PSD que, desde o 25 de Abril, formaram o sustentáculo maior do nosso sistema político, afastaram-se irremediavelmente da sociedade, deixaram degradar os seus quadros a um nível verdadeiramente deprimente, tornaram-se simples câmaras de ressonância de um bloco central de interesses que desacredita todo o nosso edifício democrático, perderam qualquer capacidade e vontade reformistas e deixaram, portanto, de protagonizar alternativas de regeneração sistémica. Mais uma vez, preocupa-me particularmente o facto de intuir que esta degeneração se agravou de sobremaneira nos últimos quatro a cinco anos. E que o caminho está aberto para propostas populistas e justicialistas.
Se não fosse o clima festivo apetecer-me-ia, de facto, dizer que o País está para o futuro como o peru está para o Natal. Assim como assim, fico-me por uma década perdida. Boas festas.