À sétima jornada, e numa altura em que o campeonato da Liga Sagres vai parar pela terceira vez desde o início da temporada, a grande surpresa da prova, mais até do que a liderança do improvável Leixões, é o péssimo início de época que o FC Porto tem vindo a realizar. Duas derrotas e dois empates em sete jogos é um registo pouco condizente com o passado recente do clube. E, claro, como é hábito nestas circunstâncias, é sobre o treinador que recai toda ira. Dos adeptos e de muitos comentadores. Uns e outros que, noutras ocasiões, não se cansaram de dizer e escrever que o grande mérito das vitórias do clube pertencerem não ao treinadores, mas à direcção, nomeadamente ao seu presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa.
À excepção dos períodos em que António Oliveira e, sobretudo, José Mourinho comandaram as equipas técnicas do FC Porto, o mérito das vitórias do clube sempre foi mais do presidente do que dos treinadores. Quem não se lembra de ouvir ou de ler as opiniões daqueles que defendem que o melhor treinador do clube é Pinto da Costa? Ou que, com uma estrutura como a do Porto, qualquer treinador se arrisca a ser campeão? Até podem ser duas verdades. O problema é que a responsabilidade destes excelsos dirigentes se extingue, normalmente, nas vitórias. Quando surgem os desaires, estão lá os treinadores para sacrificar. E Jesualdo Ferreira parece, nesta altura, ser o homem da vez. Como já foram, num passado recente, Fernando Santos, Octávio Machado, Victor Fernandez ou José Couceiro.
Sou daqueles que, desde sempre, achei que Jesualdo Ferreira não é um treinador excepcional. Mas foi o presidente do FC Porto que, ainda em Abril deste ano, decidiu renovar contrato com o técnico e afirmar que ele ia vencer “mesmo que isso custasse a muita gente”. Também foram Pinto da Costa e os seus administradores que conduziram uma política de compras e vendas que, pelo que está à vista, serviu, sobretudo para juntar o dinheiro suficiente para pagar os chorudos prémios anuais a uma administração responsável por um passivo acumulado de dimensões astronómicas e uma brutalidade de comissões pelo novo carregamento de “astros” oriundos da América Latina que não fizeram esquecer os que saíram. Também não foi Jesualdo, seguramente, que, só para irritar os benfiquistas, aceitou pagar a Cristian Rodriguez tanto ou mais do que ganham os principais responsáveis pelos últimos títulos do clube: Lucho, Lisandro, Bruno Alves ou Raul Meireles. Tal como não terá sido por vontade do técnico que o Tango passou a ser a música oficial do balneário, relegando para segundo plano o Samba e, com isto, aquele que já foi um dos melhores guarda-redes a actuar em Portugal viu o seu lugar ocupado pelo eterno suplente, o guardião dos “golos bizarros”, como aquele da Figueira da Foz.
Manuel José, que continua a brilhar nas arábias, lembrava, na última segunda-feira, aos microfones da Antena 1, que “no FC Porto é cíclico. Acertam com muitas contratações, vencem dois, três anos e, depois, fazem uma série de contratações erradas, de jogadores que não servem para fazer esquecer os que saíram. O FC Porto tem sempre um ano mau.” Com isto, explicava a razão pela qual recusa a hipótese de poder vir a render Jesualdo: “Com Pinto da Costa à frente do FC Porto, nem morto.”
Ainda é cedo para se perceber se este será o próximo “ano mau” dos Dragões, mas parece claro que, após mais de dois anos a aprender a comportar-se como um verdadeiro portista, Jesualdo Ferreira arrisca-se a sentir na pele o que só Oliveira e Mourinho conseguiram, nas últimas duas décadas, evitar e que Manuel José, sem nunca lá ter estado, está careca de saber: no FC Porto, as vitórias são do presidente e as derrotas ficam para os treinadores.