Na primeira pessoa: “Até aos 46 anos, nunca tinha feito desporto. Passava os dias sentada no escritório e só me deslocava de automóvel”

Foto: Lucília Monteiro

Na primeira pessoa: “Até aos 46 anos, nunca tinha feito desporto. Passava os dias sentada no escritório e só me deslocava de automóvel”

Sou brasileira, 62 anos, mãe de dois, advogada e atleta campeã internacional de culturismo natural. Até aos 46, passava os dias sentada no escritório e só me deslocava de automóvel. Nunca tinha feito desporto. Alimentava-me à base de pão, massa, açúcar e alimentos processados. Bebia uma garrafa de vinho todos os dias. Sentia-me doente.

Concretizando um plano antigo, mudei-me para Portugal há pouco mais de oito meses. Na linda cidade de Espinho, que já amo como lar, dou continuidade ao processo de transformação iniciado há 16 anos, em busca da plenitude física e mental da maneira mais natural possível, sem drogas, sem estimulantes, sem tratamentos estéticos, sem botox, sem implantes, sem cirurgias e sem medicamentos, por norma associados aos músculos do culturismo tradicional.

A história da minha metamorfose para uma vida saudável começa com uma provocação inocente do meu filho. Corria o ano de 2008, era ele adolescente, quando tentei convencê-lo a perder um pouco de barriga. Ao sugerir-lhe alguma atividade física para combater o sedentarismo, ele desafiou-me, certo de que poria um ponto final na conversa. “OK, eu vou ao ginásio, mas com uma condição: você também tem de ir.” Acontece que eu fui.

Enquanto o meu filho não tirava os olhos da televisão durante os 30 minutos obrigatórios na passadeira, eu observava aquela gente tão diferente de mim. Prestava especial atenção a um casal que treinava todos os dias como se a sua vida dependesse de cada movimento, de cada repetição. Absolutamente concentrados, incrivelmente fortes e determinados, os dois fascinaram-me e despertaram a minha curiosidade. Disfarçadamente, seguia-os pela sala e anotava o que faziam usando desenhos e um código que só eu entendia. No dia seguinte, tentava reproduzir os exercícios, incorporando-os no meu plano de treino para iniciantes.

Depressa me tornei autodidata. Passei a estudar tudo o que encontrava sobre técnicas de treino, grupos musculares, ganhos de força e de massa muscular. Com o tempo, aprendi a programar as sessões e a levar os músculos ao limite em cada série. Adotei um diário de treino, que uso até hoje, para registar todas as sequências que executo. Migrei para as barras livres e os halteres mais pesados. Deixei de me sentir uma estranha no ninho. Ao fim de alguns meses, o meu filho desistiu. Eu continuei e tornei-me outra pessoa, um projeto de atleta em evolução.

Sofria de alguns problemas de saúde, que julgava normais para a minha idade: flacidez intensa, alergias, quistos nos ovários, mau dormir, digestão difícil, inchaços, distensão abdominal, dores por todo o corpo, fadiga crónica. A minha dieta era muito pobre. Praticamente não comia proteínas nem vegetais ou fruta. Era pão, macarrão, bolos, biscoitos, pizza, café e, à noitinha, passava ao vinho. Como digo a brincar, uma dieta bíblica, à base de pão e vinho.

Quando comecei a praticar musculação, mantendo estes hábitos alimentares, passei a sentir muitas dores de cabeça. Dediquei-me então a ler sobre nutrição e fisiologia. Primeiro, parei com o álcool e o café, depois cortei açúcar, glúten e farinhas, e por fim adotei uma dieta baixa em hidratos de carbono, sem alimentos processados, com as quantidades de proteína e de calorias necessárias aos meus objetivos no desporto, bem-estar e qualidade de vida.

“Entrei na menopausa sem desconforto”

Já lá vão 16 anos nesta jornada fitness de autoconhecimento e transformação, um mundo que conheci por acaso, cumprindo um dever de mãe. Muita coisa mudou entretanto. Troquei a flacidez generalizada por pele e músculos firmes, entrei na menopausa sem o menor desconforto, curei-me sem remédios nem suplementos de dores na coluna e nas ancas, consequências de uma hérnia discal e do desgaste das cartilagens nos quadris.

Aventurei-me nos palcos do culturismo natural e conquistei prémios internacionais, como a Taça do Mundo de 2013, aos 51 anos, em Los Angeles, na categoria Figure/Bodyfitness, que contempla um físico definido, feminino e sem excessos. Ao contrário do que acontece no culturismo “normal”, aqui todos os atletas são testados antes das competições, porque ninguém pode obter vantagem sobre a concorrência com recurso a substâncias proibidas pelo Comité Olímpico Internacional e pela Agência Mundial Antidoping.

Para mim, os melhores troféus são outros, no entanto. Mais do que os gémeos ou os bíceps, o desporto fortaleceu a minha saúde mental. Adquiri uma atitude otimista perante a vida, sem nunca esperar por facilidades. Como nos treinos, quando as coisas estão demasiado fáceis, aumento a carga, para melhorar e continuar a crescer como pessoa. Ganhei autoestima, resiliência e aprendi a valorizar a iniciativa, essencial para alcançarmos os nossos objetivos.

Sofria de alguns problemas de saúde, que julgava normais para a minha idade. A minha dieta era muito pobre. Praticamente não comia proteínas nem vegetais ou fruta. Era pão, macarrão, bolos, biscoitos, pizza, café e, à noitinha, passava ao vinho. Como digo a brincar, uma dieta bíblica, à base de pão e vinho

A minha memória também melhorou muito, talvez devido à alimentação ou à oxigenação do cérebro. Todos os dias como peixe com azeite, acompanhado de vegetais de baixo teor de amido, por exemplo, curgete e brócolos. Espinho é o lugar ideal para seguir este modo de vida. Neste momento, não consigo imaginar nenhum outro sítio no mundo em que eu gostaria mais de viver que não fosse esta cidade, a rua e o apartamento onde moro.

Não costumo correr, porque não é o ideal para as ancas e tenho de as proteger, mas é fundamental mantermo-nos ativos para evitar as dores, realizando os exercícios corretos e adaptados aos problemas de cada um. No meu caso, prefiro andar de bicicleta e fazer caminhadas, sem compromisso, além de continuar a frequentar o ginásio cinco vezes por semana, aqui, sim, com a mesma disciplina de sempre.

É isto que eu amo fazer. Superar os meus limites a cada treino, bater as próprias marcas, sozinha e em silêncio, na sala de musculação. Não entro em competições desde 2015 e não sei se voltarei a fazê-lo algum dia, ou nunca mais, mas continuo a anotar tudo no meu caderno. O que me entusiasma é esta competição diária comigo mesma, que, tenho a certeza, só irá parar no dia em que tudo o resto parar.

Depoimento recolhido por Rui Antunes

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