Alcobaça, Óbidos e Oeiras são sede dos festivais que se iniciam esta quinzena com a música erudita de tradição europeia por dominante.
Os pianistas Artur Pizarro, Boris Berman, Mário Laginha e Piotr Anderszewski estão entre os seus protagonistas, assim como a Orquestra XXI, do maestro Dinis Sousa, titular da Royal Northern Sinfonia, que abre o seu concerto com Joly Braga Santos, no ano do centenário do compositor.
Fernando Lopes-Graça, Anne Victorino d’Almeida e Beethoven sustentam “Música e Revolução” no Cistermúsica, que também tem a Dança em Diálogos a demonstrar como só a censura deve ser censurada.
Entre os festivais de piano de Oeiras e de Óbidos mais o Cistermúsica de Alcobaça somam-se perto de uma centena de iniciativas, de recitais e concertos a manifestações paralelas, tudo à volta da música ou a propósito dela.
Revolução intemporal em Alcobaça
A 32.º Cistermúsica, em Alcobaça, a decorrer de 28 de junho a 03 de agosto, assume o lema “Intemporal” para uma edição que assinala os 100 anos do nascimento de Joly Braga Santos, os 150 de Gustav Holst e de Arnold Schoenberg, os 200 de Anton Bruckner e ainda os 100 anos da morte de Giacomo Puccini e de Gabriel Fauré. Todos estes compositores estão presentes na programação.
Os 50 anos do 25 de Abril marcam os dias do festival, seja através da dança, com o bailado Requiem – a única censura que deveria existir é censurar a censura, pela companhia Dança em Diálogos, seja por concertos como o da Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida por José Eduardo Gomes, que relaciona “Música e Revolução”, com a 5.ª Sinfonia de Beethoven, as Histórias de Abril, de Anne Victorino d’Almeida, e as Canções Heroicas, de Fernando Lopes-Graça, com arranjos para orquestra de Luís Cardoso.
O concerto realiza-se no dia 29 de junho, na cerca do Mosteiro. O bailado acontecerá no dia 21 de julho no Cine-Teatro, combinando música de Lopes-Graça (Requiem pelas Vítimas do Fascismo em Portugal), José Afonso, Max Richter, Gyorgy Ligeti, Giuseppe Verdi, Jean-Philippe Rameau, Chico Buarque, numa sonoplastia de Fernando Duarte, com textos de Cláudia Lucas Chéu, Elmano Sancho e Ondjaki.
Ao todo, o festival organizado pela Academia de Música de Alcobaça soma mais de 40 concertos, que atravessam diferentes universos da música erudita, mas também do jazz e da música popular.
Um deles será com a Orquestra XXI, projeto fundado e dirigido por Dinis Sousa. A orquestra reúne alguns dos melhores jovens músicos portugueses, vindos das principais orquestras europeias.
Sousa também pertence a uma delas. Desde 2021, é o maestro titular da britânica Royal Northern Sinfonia. É ainda maestro associado do Coro Monteverdi, dos English Baroque Soloists e da Orchestre Révolutionnaire et Romantique, e o único a assumir a regência dos projetos iniciados por John Eliot Gardiner há 60 anos.
Foi com o Coro Monteverdi e os Solistas Barrocos Ingleses que Dinis Sousa esteve esta temporada no Carnegie Hall, em Nova Iorque, e com a Orchestre Révolutionnaire et Romantique, em Londres e na Philharmonie de Paris, para fazer a aclamada integral das Sinfonias de Beethoven, depois de já ter levado Les Troyens, de Berlioz, ao Festival de Salzburgo, a Berlim e aos BBC Proms.
E foi por causa da excecional qualidade das suas atuações que no ano passado o festival de música da BBC não hesitou sequer em deslocar por uma vez a programação de Londres para Newcastle, durante um fim de semana, para se fixar nos seus projetos.
A Orquestra XXI atuará a 18 de julho, no Mosteiro de Alcobaça, exatamente a meio do festival. Apresentará um programa que abre com o Noturno para cordas, de Joly Braga Santos, segue com o 2.º Concerto para violino de Dmitri Shostakovich, com Alena Baeva, vencedora do Concurso Henryk Wieniawski, como solista, e termina com a 6.ª Sinfonia, Pastoral, de Beethoven. O mesmo programa será apresentado dois dias depois no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
A abertura do Cistermúsica, a 28 de junho, na nave central do mosteiro, merece igual atenção. Oferece o Requiem de Fauré, pela soprano Patrycja Gabrel e o barítono André Baleiro, com a Orquestra Melleo Harmonia e o Coro Ricercare, sob direção de Joaquim Ribeiro.
O encerramento será feito com a 10.ª Sinfonia de Shostakovich, pela Alto Minho Youth Orchestra, dirigida por Nuno Coelho, maestro principal e diretor artístico da Orquestra Sinfónica do Principado das Astúrias e maestro associado da Orquestra Sinfónica Casa da Música.
A estreia de Busca da Tranquilidade, de Nuno Guedes Campos, acontece no dia 19 de julho, pela Orquestra Filarmónica Portuguesa, dirigida por Osvaldo Ferreira. A obra do compositor português é acompanhada pelas Noites nos Jardins de Espanha, de Manuel de Falla, e a suíte do Cavaleiro da Rosa, de Richard Strauss. O concerto, também no mosteiro, conta com o pianista Bernardo Santos, como solista.
Ensemble Atena, Grupo Vocal Olisipo, Repercussion Trio, Nova Era Vocal Ensemble, Banda Sinfónica de Alcobaça e o Alis Ubbo Ensemble, num concerto com Bruckner em vista, fazem igualmente parte da programação do Cistermúsica, assim como os trios de João Cabrita e de Mário Laginha e Vasco Dantas, as canções de Adriana Calcanhotto, a música de Bruno Pernadas, mais o grupo Cindazunda, dedicado ao património musical europeu, e o projeto Cantigas de Maio, de João Neves, Bernardo Moreira, André Santos e Ricardo Dias.
O Mosteiro de Alcobaça oferece alguns dos principais palcos do festival que também se estende ao Armazém das Artes, ao Cine-Teatro, à Igreja da Misericórdia, ao Mosteiro de Cós, à Adega dos Balseiros e à Igreja Paroquial de S. Martinho do Porto.
De Óbidos a Oeiras…
Piotr Anderszewski, em Oeiras, e Artur Pizarro e Jorge Luís Prats, entre Óbidos e Caldas da Rainha, surgem nos festivais que têm o piano por rei.
O Festival Internacional de Piano do Oeste prolonga-se durante um mês, até 21 de julho, entre Caldas da Rainha e Óbidos, com uma extensão ao Museu do Oriente, em Lisboa.
Manuela Gouveia, Josep Colom, Boris Berman e Artur Pizarro são nomes para os recitais assim como Ke Wang e Anthony Ratinov, laureados da edição do ano passado da Semana Internacional de Piano de Óbidos (SIPO), paralela ao festival, com as suas ‘masterclasses’, desta vez a decorrer de 07 a 17 de julho.
Nos diferentes recitais, é o repertório pianístico do século XIX que domina, de Beethoven e Schubert, a Liszt, Schumann e Brahms, mas a excelência das escolhas estende-se igualmente a Mozart e Haydn, Rachmaninoff, Scriabin, Schoenberg, Bartók e Debussy.
No programa, está também o duo de Nuno Inácio, flauta, e Paulo Pacheco, piano, com obras de Francis Poulenc, Joly Braga Santos, António Victorino d’Almeida, George Enescu, Vianna da Mota e Sérgio Azevedo.
Ke Wang, que atuará no Museu Leopoldo de Almeida, nas Caldas, e no Museu do Oriente, em Lisboa, cruzará peças de Qigang Chen, Lowell Liebermann, Liszt e Rachmaninoff, com arranjos de Earl Wild, o histórico pianista norte-americano.
Schumann e Liszt são as opções do outro laureado da SIPO 2023, Anthony Ratinov. A escolha dos vencedores deste ano será anunciada no concerto final dos participantes na SIPO, a 15 de julho, com a entrega do Prémio Associação de Cursos Internacionais de Música, que organiza o certame, em colaboração com a Antena 2.
Os diferentes recitais realizam-se na Casa da Barbacam e no Auditório Municipal, em Óbidos, no Museu Leopoldo de Almeida e no Centro Cultural e de Congressos, nas Caldas da Rainha. Aqui se realizou o concerto de abertura, no passado dia 21, com a Orquestra Gulbenkian, o maestro Rui Pinheiro e o pianista Jorge Luis Prats, e aqui acontecerá o concerto de encerramento, com Josep Colom.
A 7.ª edição do Festival Internacional de Piano de Oeiras abre em 30 de junho, com um recital da sua diretora artística, Teresa da Palma Pereira, que interpretará Mozart, Chopin, Liszt, Albéniz, Tchaikovsky e Rimsky-Korsakov. O encerramento, em 28 de julho, conta com Piotr Anderszewski, num programa dedicado a Beethoven, Szymanowski, Bartok e Bach.
Entre um e outro, atuarão Yeol Eum Son, premiada no concurso internacional Tchaikovsky 2011, com obras de pianistas-compositores como Alicia de Larrocha, Ignacy Jan Paderewski, Alexis Weissenberg, Friedrich Gulda e Earl Wild; Yoav Levanon, um dos nomes da nova geração elogiado por revistas como a Gramophone e a Diapason, que interpretará Bach, Chopin, Liszt e Marc-André Hamelin; e Yulianna Avdeeva, Prémio Chopin 2010, num programa dedicado a Chopin e Liszt.
Os recitais realizam-se sempre no Auditório Ruy de Carvalho.
… e até Odemira
Mais a sul, no Alentejo, o Festival Terras Sem Sombra iniciou a 20.º edição a 25 de maio, em Mértola, e vai decorrer até novembro através dos concelhos de Ferreira do Alentejo, Coruche, Castelo de Vide, Vidigueira, Odemira, Sines, Montemor-o-Novo e Beja, sob o tema “Liberdade, quem a tem chama-lhe sua: Autonomia, Emancipação e Independência na Música (Séculos XII/XXI)”.
Itália, país convidado desta edição, será omnipresente, mas também haverá músicos vindos de Áustria, Bélgica, Brasil, Espanha, Filipinas, República Checa e Sérvia.
O próximo concerto realiza-se no fim de semana de 29 de junho, em Coruche, numa ‘subida’ do festival ao distrito de Santarém. Está anunciado o programa La Nave Va, pelo coletivo do Festival Terras sem Sombra, congregando repertórios dos séculos XVII e XVIII, com direção musical de António Carrilho, Duncan Fox no violone e Helena Raposo na tiorba e na guitarra barroca.
Para os concertos seguintes, é necessário consultar o ‘site’ do festival. Cada jornada é acompanhada de um programa dedicado à biodiversidade local.
Mas também Med, Cooljazz e Jardins do Marquês
Pela 20.ª vez, Loulé recebe dentro das suas muralhas alguns dos melhores artistas do mundo inteiro. O Med decorre de 27 a 30 de junho, tendo como prato forte os concertos, mas com espaços para as mais diversas áreas culturais.
Em antecipação, a 26, os vizinhos do Norte de África, com a Orquestra Andalusí de Tetuan com Lala Tamar. No dia 27, destaca-se a kora do maliano Ballaké Sissouko, que apresenta o novo álbum A Touma; o coletivo Kumbia Boruka, numa revisitação da música colombiana; o encontro mediterrânico entre Widad Mjama e Khailil Epi; os galegos Puuluup; os jordanos 47Soul; o quarteto da Ilha Reunião Mouvman Alé; além dos portugueses Cara de Espelho, João Frade Trio (com Miron Rafajlovic), Abaluna (com Ahmed Hamdi Moussa), Nomad e Clavi Trio.
No dia 28, Cabo Verde vai estar em grande, com a icónica presença de Tito Paris, mas também com a nova geração, através dos Acácia Maior. Destaque ainda para o cubano Roberto Moreno, a argentina Delfina Chebb, o finlandês Antti Paalanen, os marroquinos Oum, os espanhóis Hip Horns Brass Collective , além dos portugueses Throes + The Shine, Teresinha Landeiro e Kumpania Algazarra.
Dia 29, Portugal tem presença forte, com Cristina Branco, Lina, o luso-iraniano Mazgani, Rita Vian, os Raias e, a fechar, o Quarteto de Cordas de Matosinhos. Da Guinê, os Tabanka Djazz, mas também Eneida Marta, acompanhada pelo moçambicano Huca.
Há ainda oo afrobeat brasileiro dos Bexiga 70, o jamaicano Anthony B, o duo africano AfrotroniX ou os sul-coreanos Idiotape.
O Cooljazz, por seu lado, decorre de 9 a 31 de julho, e recebe grandes nomes de dentro e fora do jazz, tendo como hipocentro o Hipódromo Manuel Passolo. Entre outros atuam os Air (dia 9), Chaka Khan (9), Morcheeba (10), Dino Santiago (10), Maro (19), Diana Krall (26), Jamie Collumn (31). De 3 a 10 de julho, os Jardins do Marquês, em Oeiras, com um cartaz de luxo, que inclui Juana Luís Guerra (3), Stacey ken e Danilo Caymmi (4), Adriana Calcanhotto (5), Camané & Mário Laginha (5), Patty Smith (7), Toquinho (9) e Djavan (10).