Apesar de já se conhecerem há bastante tempo uma vez que os pais são amigos, foi em 2011, a seguir ao Optimus Alive, que Rafael Matos, dono da bateria da banda, e, Sebastião Varela, responsável pela guitarra elétrica, se começaram a dar mais e decidiram criar umas “bandinhas” O Gaspar, o outro Varela do grupo, virtuoso guitarrista, por ser mais novo não tinha tanto envolvimento com os agora parceiros de banda. Foi sim, quando viajava pelos Estados Unidos da América, em 2020, tendo sido escolhido por Madona para integrar a sua tour, que passou a ter uma influência maior na construção musical do grupo, apesar da distância.
“Eu e o Rafa estávamos a fazer umas musiquinhas, enviávamos para o Gaspar e ele lá fazia a magia dele”, explica Sebastião. Foi esta distância transatlântica, para além da mistura das várias influências singulares de cada elemento da banda que deu nome aos Expresso Transatlântico. Até então estava longe a ideia de a banda encarar de forma séria o que era produzido, uma vez que era tudo realizado como diz Rafael, “na desportiva”: “Só se tornou sério quando o Gaspar voltou da tour e fomos para estúdio gravar as duas primeiras músicas do EP. Sentimos nesse momento que estava a acontecer alguma coisa”.
O EP homónimo viria a chegar ao público em 2021, levando a banda a pisar pela primeira vez o palco do Teatro Maria Matos, e, um ano depois, viria a sair o single “Barquinha”, com a colaboração de Conan Osíris. Apelidado de génio pelos elementos da banda, e dando voz ao instrumental dos três amigos, a sua colaboração culminou numa música com a letra construída através do que fora vivido num dia de convívio entre este e a banda, como explica Sebastião: “Acabámos um ensaio de uma hora, depois ficámos juntos até à noite, jantámos, sempre a falar, e no dia seguinte já estava uma letra feita”.
Assim como na Barquinha, Bombália, outra faixa deste álbum, tem o mar como elemento constante nos videoclipes, servindo como um elo entre os artistas e os consumidores da sua arte. É nesta dedicatória ao mar que Sebastião, nascido e crescido em Lisboa, assim como todos os elementos do grupo, tendo, por isso, uma ligação constante ao mar ao longo da sua vida, que frisa as palavras de José Mário Branco: “Como o mar nos ensina a sonhar alto”.
Esta perceção da transmissão de sensações através da materialização dos sons em imagens provem de Sebastião que tem formação em realização e que olha para os sons como quem olha para vinhetas: “A cena fixe das nossas músicas é que deixam espaço para criar alguma coisa ali dentro, para tentar elevar uma certa emoção, um certo sentimento. É tentar dar uma roupagem a uma coisa que estás a ouvir, e, dada a liberdade conferida pelo instrumental, acabamos por criar uma história e filosofar ali à volta”.
Dead Combo é uma das referências declaradas pela banda no seu processo criativo, mas, dada a proximidade óbvia, Celeste Rodrigues, irmã de Amália e bisavó dos irmãos Varela, sempre foi muito influente, como explica Sebastião: “Está bastante presente. Azul-Celeste é a primeira malha que a minha avó me ensinou quando eu comecei a tocar guitarra e depois ensinou o Gaspar”.
Muitas vezes associados ao fado, muito por conta da presença do Gaspar e da sua guitarra portuguesa ao longo das músicas até então lançadas, e, sendo os três amigos jovens que atingem uma geração que, à partida, não tem uma ligação forte a este estilo musical. São muitas vezes confundidos como missionários da promoção deste património, algo que rejeitam de forma imperativa. “Temos uma banda com um guitarrista que toca guitarra portuguesa, um instrumento que não é exclusivo do fado, para além do facto que aquilo que o Gaspar faz no Expresso é basicamente reinventar a guitarra portuguesa”, vinca Sebastião.
Lançado no final de setembro, este primeiro álbum da banda, intitulado de Ressaca Bailada é fruto de mais de um ano passado em tournée, com presença em alguns dos mais importantes festivais nacionais, e, consequentemente, de um contacto desta com o público, do feedback, algo que não tinha acontecido até à composição do disco, como refere Rafael: “Nós nunca tínhamos tocado ao vivo, nem sabíamos ao que é que Expresso Transatlântico ia soar”.
Referindo-se a este álbum como um “baile consciente do futuro”, a banda tenta ao máximo espelhar essa mesma consciencialização mesmo sem qualquer corda ou batida por detrás, quando necessário.
Atendendo ao sucesso deste primeiro espaço, a revelam que já andam a pensar num novo álbum. Mas, para já, o que se segue são concertos, ao som de um álbum dançável num misto de fado, rock alternativo e pop, com vista a uma ressaca bailada.