Mal pomos o disco a tocar, ouvimos “O que queres que diga que estes tambores não digam já?”. E estamos avisados. Para os PAUS, a música fala por si, e as palavras, quando as há, só servem para “dar ênfase” ao instrumental, acrescenta, ao JL, o baterista Hélio Morais. Dispensam rótulos, regras e ideias predefinidas: “PAUS é o que acontece quando estas quatro pessoas vão para estúdio com uma bateria ‘siamesa’, um baixo e teclados”, rematam. Depois de terem corrido o país com o EP É Uma Água (2010), a banda de Hélio Morais (também dos Linda Martini e If Lucy Fell) e Joaquim Albergaria (dos extintos Vicious 5), que dividem a bateria, de Paulo Mokoto (If Lucy Fell e Riding Panico), no baixo, e de João Shela (If Lucy Fell), nas teclas, lança, agora, o seu primeiro e homónimo álbum.
JL: A bateria ‘siamesa’ é uma espécie de imagem de marca dos PAUS. Como surgiu esta ideia?
Hélio Morais: A ideia não é nossa. Desde há muito que as escolas de jazz usam estas duas baterias, unidas pelo bombo, para os professores tocarem em frente aos alunos. Nós chamámos-lhe ‘siamesa’, demos-lhe uma abordagem mais rock, e trouxemo-la para o palco. Não a usamos numa perspetiva pedagógica, até porque, do ponto de vista técnico, não é muito correto: o bombo não soa tão bem como um que não esteja a ser tocado dos dois lados. Quando eu e o Quim falámos em tocar numa bateria ‘siamesa’, foi pela piada de estarmos a partilhar qualquer coisa.
A vossa música transmite essa sensação de partilha, de comunidade… Por exemplo, não há um vocalista, todos cantam.
Isso é porque cantamos todos mal, então misturamos as nossas vozes e soa melhor [risos]. E, para nós, faz sentido que a voz seja um instrumento; brincarmos com os tons de cada um… Mas é evidente a relação de amor entre estas quatro pessoas, que gostam de estar e tocar juntas, e tentamos passar essa sensação através da música.
Depois do sucesso do EP, chega o primeiro álbum. Como aconteceu?
Passámos um ano e meio a tocar as mesmas quatro ou cinco músicas, até que sentimos que já estávamos a esticar a corda, e decidimos ir para estúdio. Gravámos o instrumental em duas semanas e marcámos mais uma para fechar as vozes e montar algumas músicas que estavam inacabadas.
Compuseram e gravaram nessas três semanas?
Sim. O nosso processo de composição e gravação acontece quase em simultâneo: vamos para estúdio, montamos o equipamento, e quando aparece uma ideia a partir de um dos instrumentos, gravamos logo, e desenvolvemos o resto por camadas. Ou seja, construímos as músicas no momento. E grande parte do que aparece no álbum gravámos à primeira. É um método que surgiu por acaso, mas como correu bem com o EP e, agora, com o disco, vamos continuar a gravar assim. Claro que vamos para estúdio conscientes de que pode não sair nada capaz de ser editado porque depende da inspiração, mas isso acaba por puxar por nós.
Este disco, com 37’01 minutos, faz lembrar a lógica dos temas dos Ramones: é ‘sempre a abrir’ e, quando damos por nós, já acabou…
Nenhum membro da banda gosta de discos muito grandes, não queríamos fazer uma coisa maçuda. Achamos que até 40 minutos é um bom tempo para se ouvir música. É preferível as pessoas ouvirem o disco e ficarem com vontade de ouvir mais do que chegarem ao fim e pensarem “Finalmente!”.