William Shakespeare na cultura portuguesa é o ciclo que a Fundação D. Luís I apresenta a 3, 4 e 5 de outubro nos auditórios do Centro Cultural de Cascais e da Casa das Histórias Paula Rego. Trata-se da celebração dos 450 anos do nascimento do dramaturgo inglês que conta com palestras, teatro, cinema, atividades para os mais novos, e muito mais, como nos conta Salvato Teles de Meneses, 65 anos, presidente daquela fundação, especialista em literatura norte-americana e tradutor, muitos anos crítico de cinema e colaborador do JL.
JL: Qual a importância e receção de Shakespeare em Portugal?Salvato Teles de Meneses: A presença da obra teatral de Shakespeare nos nossos palcos tem sido recorrente ao longo dos anos. Quase todos os mais importantes encenadores fizeram adaptações das suas peças – Carlos Avilez, Luís Miguel Cintra, Joaquim Benite… Por outro lado, existem as traduções de uma série de intelectuais portugueses que tiveram uma relação muito próxima com a obra do bardo e que, ao longo dos anos, conseguiram manter esta ligação viva: Carlos de Oliveira, Vasco Graça Moura, Sophia de Melo Breyner… Claro que para a fundação, um marco importante é a tradução, de 1877, do Rei D. Luís, da Cena V, do Ato 1.º, de Hamlet [Interpretação dos alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais, a 4, às 17 e 30, na Casa das Histórias].
Qual o significado da representação desse excerto?É extraordinariamente importante. Quisemos celebrar a persistência do legado shakespeariano entre nós, nomeadamente nas palavras do nosso patrono. Shakespeare falou de tudo com uma atualidade que resiste ao tempo. Existe em Cascais uma perspetiva traçada pelo presidente da Câmara, Carlos Carreiras, para as atividades culturais responderem à ideia de atlantismo, envolvendo portanto os países de língua portuguesa, castelhana e inglesa. Celebrar Shakespeare era fundamental.
Haverá canto lírico, cinema, teatro, conferências… O que destaca da programação?As conferências, porque nelas vão participar alguns dos mais importantes académicos portugueses e reconhecidos estudiosos da obra shakespeariana. Rui Carvalho Homem, presidente da European Shakespeare Research Association, apresentará O Rei, o Prisioneiro, o Professor: três capítulos da receção de Shakespeare em Portugal [a 3, às 21 e 30, no Auditório do Centro Cultural de Cascais]. Por outro lado, selecionamos três filmes representativos de visões diferentes da obra shakespeariana, apresentados na Casa das Histórias: O mercador de Veneza, de Michael Radford [a 4, às 15], Titus, de Julie Taymor [a 4, às 21] e Falstaff, de Orson Welles [a 5, às 15]. Lamento não ter conseguido uma cópia do Othello, de Sergei Yutkevich, de facto uma obra sublime. Creio que a leitura dos sonetos em inglês e em diferentes traduções, a 5, às 17 e 30, na Casa das Histórias, vai ser muitíssimo interessante. O canto lírico, com direção artística de João Paulo Santos, abrilhantará esta celebração [a 3, às 21, no Centro Cultural de Cascais]. Quisemos perceber até que ponto a obra de Shakespeare teve repercussão em diferentes artes.