Num dos mais belos poemas alguma vez escritos em língua inglesa, o irlandês W.B.Yeats exalta o amor que sobrevive à usura do tempo: “Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,/ Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,/Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,/E amou as mágoas do teu rosto que mudava.” A leitura destes versos demonstrou-me, há muito tempo, quando o li pela primeira vez, que há apenas duas maneiras de viver o envelhecimento: a angustiada, que cartografa as rugas como um mapa da rota para a morte, e a tranquila, que se adapta aos ritmos da vida como se estes fossem de água.
Desconheço se Sofia Loren, nos momentos de estar a sós consigo mesma, alheia à dispersão do “estrelato” e do desejo dos homens, alguma vez leu Yeats. Mas vê-la, aos 75 anos, no musical Nove, ao lado de mulheres infinitamente mais novas como Penélope Cruz, Nicole Kidman ou Marion Cottilard, é uma prova de coragem tão bela como ela o foi nos tempos em que passeava sensualidade por Cannes e Veneza.
Quando Rob Marshall a convidou para integrar o elenco do seu novo musical, Nove, alegadamente inspirado no filme Oito e Meio, Sofia não hesitou: ela que, durante tantos anos, sonhara com um convite de Fellini que nunca chegou, tinha agora uma oportunidade, única e irrepetível, de se aproximar do universo do realizador. Disse-o à imprensa internacional e avançou sem hesitações para o papel de mamma omnipotente de Maestro Contini (Daniel Day-Lewis). Mais desconcertante ainda: o de uma mamma morta, só visível nos solilóquios de um homem de meia-idade, perdido e carente como uma criança. Amá-la-emos agora, como escreveu o poeta, “velha, grisalha, vencida pelo sono.”