Foi lançada na Cidade da Praia, em Cabo-Verde, a primeira versão do Vocabulário Ortográfico Comum, ferramenta essencial para a plena aplicação do Acordo Ortográfico. A versão final será apresentada na Cimeira dos Chefes de Estado da CPLP, que decorre em julho, em Díli. O JL falou com Gilvan Müller de Oliveira, diretor executivo do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), sobre este e outros projetos.
JL: Está finalmente pronta a primeira versão do Vocabulário Ortográfico Comum. De que se trata?Gilvan Müller de Oliveira: A plataforma do VOC foi lançada com quatro vocabulários integrados (Brasil, Portugal, Moçambique e Timor Leste). O projeto teve uma primeira fase em que consolidou os vocabulários já existentes elaborados por Portugal e o Brasil num único vocabulário, a partir de uma metodologia consensual. Numa segunda fase, criámos de raiz o vocabulário de países que nunca tiveram este instrumento, são os casos de Moçambique e Timor Leste. Agora a prioridade é finalizar os de São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. A ideia é que todos os países tenham o seu VOC.
É uma ferramenta essencial para a plena aplicação do Acordo Ortográfico?Sim, até porque, paralelamente, foi criado um corpo internacional de consultores, indicados pelas respetivas comissões nacionais, que aglutinou grandes questões relacionadas com a interpretação comum do AO, em quatro áreas: consoantes mudas, acentuação, formas não adaptadas e toponímia. Este é o melhor garante para que algumas críticas direcionadas ao AO sejam superadas e este possa ser aplicado em todos os países.
A lógica deixa de ser apenas luso-brasileira…Hoje em dia a lexicografia portuguesa é basicamente contrastiva, com duas normas, a portuguesa e a brasileira. Cada um elaborou o vocabulário por si só. E os demais países não tinham essa ferramenta. Agora dá-se uma mudança profunda da forma de gestão do léxico, para um modelo multilateral e consensual. Ao desenvolver o seu instrumento cada país está a colaborar para um instrumento comum.
Outra iniciativa importante é o Portal do Professor de Português…É outro grande projeto. Uma plataforma on-line que disponibiliza recursos para o ensino do português como língua estrangeira. Está on-line com 151 unidades didáticas de quatro países. Agora quando alguém quiser aprende português, tem uma gestão múltipla e não apenas dual. Talvez a língua portuguesa nunca tenha passado por tal explosão de interesse, talvez nunca tantos estudantes, empresários e profissionais se tenham interessado no português. É um momento histórico.
Que balanço faz do seu trabalho no Instituto ao longo deste tempo?O meu mandato está a terminar. O Plano de Ação de Brasília deu ao diretor executivo um bom instrumento de gestão do IILP, desafiando-o a executar projetos concretos e tarefas importantes. Deixamos o IILP com projetos finalizados ou quase, com uma prática de interação com as comissões nacionais e possibilidades de avanço e desdobramentos ao serviço dos países membros da CPLP.
E quais foram as maiores dificuldades?As maiores dificuldades foram de ordem política. Foi um desafio muito grande tornar consensos para criar projetos comuns a todos os países. Foi o maior desafio, mas com uma conclusão positiva. Do ponto de vista orçamental, houve vários países que não cumpriram com as suas quotas anuais, pelo que o IILP teve menos que metade do orçamento aprovado, o que nos obrigou a uma grande engenharia financeira.