A poesia prende poetas, acidenta carros
e afunda barcos
Dionísio I, tirano de Siracusa, considerado um dos mais cruéis déspotas daquela época (430 a 367 a.C.), reuniu na sua corte vários poetas reputados para que o ajudassem na escrita da poesia. Rodeado de turibulários e das suas louvaminhas, convenceu-se assim de que era um grande poeta e gabava-se mais dos seus versos dos que dos feitos de guerra. Conta Diodoro Sículo, na Biblioteca Histórica, que entre esses poetas “estava Filoxeno, o escritor de ditirambos que gozava de grande reputação como autor nesse estilo. Depois do jantar, quando as composições do tirano, que eram miseráveis, foram lidas, foi-lhe perguntado o que havia achado da qualidade da poesia. Por ter respondido com bastante franqueza, o tirano, ofendido com suas palavras, acusou-o de inveja e ordenou aos seus servos que o arrastassem imediatamente para as pedreiras. Porém, no dia seguinte, quando os amigos de Filoxeno pediram que o tirano soltasse o poeta, Dionísio acedeu e incluiu-o novamente no grupo de poetas que lhe faziam companhia após o jantar. À medida que iam bebendo mais e mais, Dionísio gabava-se mais e mais da sua própria poesia. Depois de recitar alguns versos que considerava especialmente felizes, perguntou o que achava Filoxeno daqueles poemas. Filoxeno não respondeu: limitou-se a chamar os servos de Dionísio ordenando-lhes que o levassem de novo para as pedreiras.”
Dionísio teve várias contendas com vultos da época. Certa vez, agastado com algumas opiniões de Platão, decidiu pô-lo à venda como escravo no mercado. Vários filósofos juntaram-se e compraram a liberdade de Platão, que voltou para a Grécia.
Um dos casos mais curiosos da vida de Dionísio, também contado por Diodoro Sículo, terá sido quando participou nas Olimpíadas, levando vários carros com quatro cavalos cada (bastante mais velozes do que os dos adversários) e uma caterva dos melhores atores para lerem os seus poemas e assim glorificá-lo no triunfo. Os versos eram tão maus que alguns carros chocaram entre si e outros despistaram-se. Do mesmo modo, o barco que levava a sua delegação olímpica de volta à Sicília naufragou perto de Tarento, em Itália, uma vez mais devido à paupérrima qualidade da poesia do tirano, ou assim atestaram os marinheiros que sobreviveram.
Todavia, o ridículo a que os seus versos foram sujeitos não levou Dionísio I a desistir da poesia, abraçando a justificação dos seus bajuladores: todos os grandes feitos geram inveja e só mais tarde admiração.
A poesia salva cidades e liberta escravos
Conta Plutarco que depois da devastadora derrota da expedição ateniense a Sicília (415 a 413 a.C.), muitos dos que sobreviveram saudaram Eurípides com enorme gratidão. Os sicilianos, que eram grandes admiradores da poesia de Eurípides, regozijavam com a aprendizagem de versos que os prisioneiros atenienses lhes ensinavam. Por isso, foram libertados pelos seus captores. Outros, que deambulavam perdidos depois da ultima batalha, receberam comida e bebida, por cantarem hinos corais da autoria de Eurípides.
Conta ainda Plutarco que Erianto de Tebas, após a guerra antes mencionada, quis destruir Atenas e transformá-la em pasto para gado. Estando ele reunido com outros líderes num banquete, um ator fociano cantou o primeiro coro de Electra, de Eurípides, que gerou tanta emoção entre os comensais que de imediato decidiram abandonar o plano de destruição de Atenas, pois seria “uma enorme crueldade destruir a cidade que produziu poetas daquela qualidade”.
A poesia mata os amigos
Para terminar, uma notícia da TSF, de 29 de Janeiro de 2014, que diz o seguinte: “Os dois amigos estavam a beber na cidade de Irbit, nos montes Urais, quando começaram a discutir literatura, “sobre qual dos géneros literários, poesia ou prosa, é mais significativo”, de acordo com uma declaração dos investigadores da região de Sverdlovsk.
“O anfitrião insistiu que a verdadeira literatura era a prosa, enquanto o convidado, um antigo professor, defendeu a poesia”, acrescentaram.
“A discussão literária tornou-se rapidamente num conflito e o amante de poesia, de 53 anos, matou o oponente à facada”, disseram os investigadores. O antigo professor, que se escondeu em casa de um amigo, foi detido mais tarde.”