Depois de estar à frente do Museu da Cidade, no Porto, e do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, em Guimarães, Nuno Faria chegou ao Museu da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, onde inaugurou, este mês, a primeira exposição por si comissariada.
Até dezembro de 2025, 331 Amoreiras em Metamorfose celebrará o 30º aniversário da abertura do Museu. Esperam-se visitas guiadas pelo próprio diretor e alguns artistas, o lançamento de um projeto editorial e de um podcast, além de entradas gratuitas para os residentes em Lisboa e, aos domingos, para todos os outros.
331 Amoreiras em Metamorfose, o projeto expositivo proposto até dezembro de 2025, é composto por cinco momentos. Em que consiste cada um deles?
Não sendo propriamente um tema, mas mais uma evocação, cada momento tem diferentes colorações. O primeiro, O Tecido do Mundo, remete para a forma como o têxtil nos constitui e constitui as nossas vidas, como impregna toda a nossa existência.
O segundo, Uma Estreita Lacuna, diria que tem como tema principal a relação entre escrita e imagem, com várias obras da Vieira ligadas a universos literários, mas também obras de artistas poetas como Teixeira de Pacoaes ou Mário Cesariny.
O terceiro, Histórias de Bichos da Seda, vai ter muito a ver com animismo, magia e transformismos. O quarto, Notas Sobre a Melodia das Coisas, será marcado pelo aparecimento de várias naturezas mortas.
O momento final, talvez o mais importante, tem o mesmo nome do último quadro da Vieria, Ascensão: Vers La Lumiére, e vai ser muito ao branco, alvo, relacionado com o último período da obra dela, já depois da morte do Arpad.
Já tem ideias para o final do próximo ano, quando terminar este primeiro grande projeto?
Esta exposição é especial, porque não só é o começo de uma programação como coincide com o 30º aniversário do museu. Acho que preciso de um pouco mais de tempo para perceber como é que as coisas se vão desenvolver. No entanto, apesar de ainda não sabermos quando é que vão acontecer, já há projetos de outras exposições. Claro que uma das vocações do museu é mostrar a obra da Vieira e do Arpad e isso vai manter-se, como vemos também nesta exposição.
E a nível de programação paralela, o que é que quis trazer de novo para o museu?
Como já é prática da casa, vamos ter uma programação paralela em várias áreas, tanto no atelier Vieira da Silva, ao lado do museu, como no auditório. Estamos também a fazer um podcast com o Tomás Cunha Ferreira, que tem muita experiência de rádio, é artista e está também nesta exposição.
Um dos seus desejos é o de aproximar o lugar museu dos cidadãos. Que medidas se podem tomar para quebrar as barreiras existentes?
Queremos que as pessoas passem o limiar do museu, mas também que o museu esteja mais presente na rua. Queremos trabalhar muito com a praça, que é um privilégio tê-la aqui, ser mais abertos e que haja maior acessibilidade. Contudo é importante as pessoas perceberem que os museus são sempre lugares especiais, onde podem vir ver coisas que, muito provavelmente, não veem na sua vida do dia-a-dia. Acessibilidade é pensar como podemos melhorar não só a fruição, mas também o espírito crítico do espectador.
Como é que isso se faz?
Proporcionando-lhe uma visita durante a qual ele sinta que, no museu, tem acesso a coisas que não tem noutro sítio. Algo tão simples como estar à frente de uma pintura, de coisas que têm textura, uma presença física.
Também implementaram visitas guiadas aos fins de semana.
Sim, à partida haverá sempre uma visita guiada ao sábado por mim e, no futuro, algumas guiadas por artistas.