Álvaro Laborinho Lúcio publicou o primeiro romance em 2014, aos 73 anos, conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça já jubilado, entre muito mais ex ministro da Justiça e ministro da República nos Açores, com uma intervenção e participação constantes em vários domínios da vida nacional. Que depois disso continuaram, assim como os novos romances — o quarto, com o título A Sombra das Azinheiras e a chancela da Quetzal, chegou aos escaparates e será lançado nas Correntes d’Escritas.
Jornal de Letras: Qual é o tema central deste seu A Sombra das Azinheiras?
Álvaro Laborinho Lúcio: O tema é um certo Portugal, contado desde 45 anos antes e até 45 anos após 25 de Abril de 1974. Um Portugal centrado na sua classe média, ora rural, ora urbana, que dá o ambiente físico e humano do livro. A narrativa isola duas personagens principais, Catarina e João Aurélio, que servem de pontos de observação, não reais nem realistas, a partir dos quais o leitor vê o país através da trama que forma a história. Um país, por um lado utopia que, ao realizar-se no dia e com a revolução (João Aurélio), se esgotou, para que outro nasça; e um país que nasce com a revolução, mas que vive entre as suas profundas contradições e dúvidas, à procura de si próprio (Catarina).
Este quarto romance inscreve-se em alguma ‘linha’ dos anteriores?
Não, e deles se distingue em vários aspetos. Nos romances anteriores avultava sobretudo a fragilidade humana olhada do interior das suas personagens, confrontadas ora com a verdade (O Chamador), ora com o radical absoluto (O Homem que Escrevia Azulejos), ora com o caos (O Beco da Liberdade). Nessa medida, e apenas nela, pode até considerar-se constituírem uma trilogia.
Enquanto em As Sombras de uma Azinheira…
… o olhar é projetado para o exterior, para a realidade de um país em mudança. Daí que as duas personagens principais escapem muitas vezes ao critério da “consistência” e da “verosimilhança”, enquanto conformação com a realidade. A sua consistência, sobretudo a de Catarina, está na falta de consistência. Ela é alguém simbólico, que se questiona permanentemente. Do mesmo modo que João Aurélio não deixa de se perguntar se, em vez de falar com os mortos, não é consigo próprio que fala. Nos romances anteriores, o autor traça um caminho e convida os leitores a seguirem com ele. Neste o caminho está já traçado, e o autor junta-se aos leitores, que já por ele seguiam.