Tirou o curso de bateria do Hot Clube enquanto concluía o sétimo grau do curso de piano do Conservatório. E a sua música sempre se caracterizou por uma abertura e assimilação de diferentes universos. Fundador da Escola de Jazz do Barreiro, é licenciado em composição pela E. S. de Música de Lisboa, com mestrado em Etnomusicologia pela Un. Nova e doutoramento em Música para Cinema pela Fac. de Letras de Lisboa. Cinematheque é o seu terceiro álbum a solo, um disco mais intimista, construído a partir do piano. É editado em vinil e em CD em Portugal, Itália e nos Estados Unidos. E será apresentado ao vivo, dia 29, no Teatro Avenida, em Castelo Branco.
JL: Cinematheque tem características muito diferentes dos seus álbuns anteriores. Até que ponto os tempos de pandemia e confinamento o levaram a este tom mais intimista?
Jorge Moniz: A ideia de fazer um disco mais próximo de uma linguagem mais minimalista ou neoclássica (conforme os termos em questão) apenas encontrou o timing certo nos tempos de confinamento.
Tem formação clássica, mas tem trabalhado sobretudo no universo do jazz, com apetência também para outras músicas. Cinemathéque também parece um encontro de diferentes escolas e estilos musicais. De que forma é que todos estes universos se fundem na sua música?
Tenho trabalhado sempre em áreas e isso acaba por se refletir na música que componho. Mesmo nos tempos de estudante tentei ser o mais eclético possível. Sempre me deixei atrair por vários estilos. Talvez tenha que concordar com a teoria de que música é música. O ser humano tem sempre uma enorme necessidade de classificar e separar, talvez por uma questão de auto-organização. A verdade é que também existe música quase inclassificável. Vejamos o exemplo de bandas como Divine Comedy, em que a linguagem pop se funde com fantásticos arranjos orquestrais e onde coabitam instrumentos cuja fusão seria, à partida, pouco provável.
O título do disco remete obviamente para o cinema… Trabalhou estas composições com a ideia de paisagem de sons ou banda sonora para um filme imaginário?
A escrita de música para cinema sempre me cativou, e a sua função e interação com os demais elementos cinematográficos (imagem, narrativa) acabou por se transformar na razão de ser do meu doutoramento. Para compor esta música não pensei propriamente em imagens, guiei-me pelo instinto, deixando-me levar por alguns universos cinematográficos que admiro, como o cinema de Kubrick, Polanski, Resnais, Hitchcock… por aí. Atraem-me especialmente alguns dos compositores que trabalharam, ou se deixaram trabalhar, com estes realizadores.
O disco parece mergulhado em sons ou num estado de espírito português. Concorda?
Durante alguns anos, também no âmbito académico, desenvolvi estudos científicos na área da música tradicional portuguesa, mais concretamente na do cante alentejano. Embora me atraia toda a música tradicional, claro está. Aprecio muito o trabalho desenvolvido por Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça. Foi algo que sempre me acompanhou. É muito natural que essa influência transpareça na sonoridade do que faço. Curiosamente, retrabalhei, para a edição italiana do Cinematheque em CD, um dos temas que já tinha incluído no meu primeiro álbum (de jazz) a solo de 2010. O início desse tema, “Tralhoada”, que não vem incluído na edição em vinil, incluí precisamente um excerto de uma recolha de Giacometti.
Como vai apresentar o disco ao vivo? Já há concertos previstos?
O disco vais ser apresentado ao vivo com todos os meus companheiros (Jorge Vinha e Francisco Ramos nos violinos, Eurico Cardoso na viola, Emídio Coutinho no violoncelo, Ana Rita Pratas no clarinete baixo e Inês Jacques no teclado e voz) e com os videoclips projetados em fundo. Para além da componente musical terá também, portanto, uma forte componente visual.